Terramoto destruiu parcialmente castelo com dois mil anos em Gaziantep, na Turquia

Uma mesquita do século XVII terá ruído na mesma cidade. E o sismo também causou danos na Síria, onde estão a ser avaliados os estragos na Cidade Velha de Alepo, que é Património Mundial da UNESCO.

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Imagem da destruição provocada pelo sismo no Castelo de Gaziantep Getty Images
Imagem do Castelo de Gaziantep antes do sismo
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O Castelo de Gaziantep antes do sismo DR

O Castelo de Gaziantep, na cidade turca homónima, construído pelos romanos nos séculos II e III da era cristã mas cuja história remonta ao império hitita, foi parcialmente destruído pelo violento sismo que assolou esta segunda-feira o Sudeste da Turquia e o Noroeste da Síria, provocando o colapso de milhares de edifícios e provocando um número de vítimas ainda difícil de estimar. A meio desta tarde, a contagem já ultrapassava as 2200 mortes confirmadas.

Com uma muralha circular de pedra que mede mais de um quilómetro, o castelo, que se ergue no centro da cidade, possuía 12 torreões, alguns dos quais, voltados a leste e a sul, não resistiram ao terramoto e ruíram. Segundo a agência turca Anadolu, os “destroços do castelo espalharam-se pela estrada”, bem como os gradeamentos que o cercavam.

No interior do Castelo de Gaziantep, uma das grandes atracções turísticas da cidade, funciona o Museu Panorâmico da Defesa e do Heroísmo, que evoca a resistência à ocupação francesa.

Segundo a agência Anadolu, também a histórica mesquita de Sirvani, a curta distância do castelo, e que datará de século XVII, foi parcialmente destruída pelo sismo.

E a quase 200 quilómetros de Gaziantep, na cidade de Iskenderun, na costa mediterrânica, terá ruído, de acordo com o jornal turco Daily Sabah, a Catedral da Anunciação, um templo católico erguido pelos carmelitas no terceiro quartel do século XIX, e que tinha sido reconstruído em 1901, após um incêndio,

Do lado sírio, a cerca de 100 quilómetros de Gaziantep, a Cidade Velha de Alepo, inscrita na lista do Património Mundial da UNESCO, e que já tinha sido severamente maltratada pelo conflito na Síria, ficou agora “danificada pelo terramoto”, anunciou o director-geral do organismo estatal sírio responsável pelos museus, Hammam Said, adiantando ter sido já enviada para o local uma equipa encarregada de “avaliar os danos”.

Conquistas e reconquistas

Gaziantep, capital da província do mesmo nome, que até ao princípio do século XX era conhecida como Antep, é uma das mais antigas cidades do mundo com ocupação contínua, tendo sido fundada pelos hititas mil anos antes da era cristã. Muitos historiadores estão hoje convictos de que corresponderá ao local onde se ergueu a mítica cidade de Antioquia do Tauro, referida nas fontes clássicas, e que durante muito tempo se associou a Alepo, na Síria.

Terão sido os hititas os primeiros a construir um posto de vigilância no local onde se ergue o Castelo de Gaziantep, depois reconstruído e expandido no período romano a partir do século II d.C. A sua configuração actual datará no essencial do reinado do imperador bizantino Justiniano, no século VI.

Numa cronologia resumida da longa história de conquistas e reconquistas, cercos e resistências heróicas que estas pedras presenciaram ao longo de dois milénios, a jornalista anglo-egípcia Nadda Osman lembra, no site noticioso Middle East Eye, que o castelo foi tomado pelos muçulmanos do Califado Omíada e só 300 anos mais tarde voltou a ser capturado pelos cristãos bizantinos, que por sua vez o perderam, no século XI, para o império islâmico sunita dos turcos seljúcidas.

Os cruzados cristãos ainda o recuperaram em 1098, mas no final do século XII estava já nas mãos dos aiúbidas curdos, liderados pelo famoso Saladino. E a fortaleza ainda voltou a mudar algumas vezes de mãos até ao início do século XVI, quando caiu na posse do Império Otomano, após a batalha de Marj Dabiq, em 1516, entre as tropas otomanas e as do Sultanato Mameluco do Egipto.

Inscrições no próprio castelo, que chegaram até nós, atestam que sofreu uma ampla remodelação no tempo do poderoso sultão Solimão, o Magnífico, que reinou entre 1520 e 1566.

Nos séculos seguintes, o castelo foi perdendo importância como estrutura militar e defensiva, mas Gaziantep voltou a ter protagonismo após a Primeira Guerra Mundial –​ que os otomanos combateram ao lado dos alemães –, quando a cidade, que então se chamava apenas Antep, ou Aintab, foi ocupada pelos britânicos e depois transferida para a tutela francesa.

Durante a guerra de independência turca, as tropas francesas cercaram a cidade e venceram as forças nacionalistas após largos meses de combates, mas acabaram por se retirar na sequência do Tratado de Ancara, assinado no final de 1921. Foi em homenagem à tenacidade mostrada pelos cidadãos de Antep na resistência aos franceses que a cidade ganhou o prefixo “gazi”, que significa guerreiro, ou herói da guerra, e passou a chamar-se Gaziantep.

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