A sensação térmica no Rio de Janeiro, no Brasil, chegou aos 58 graus Celsius no último sábado – um recorde para este Verão carioca, segundo o sistema municipal Alerta Rio. O registo foi realizado às 15h no bairro de Santa Cruz, na zona Oeste da cidade.
No mesmo local, às 15h45, também foi registada a mais elevada temperatura máxima da estação até ao momento: 41,1 graus Celsius.
“Parecia uma estufa, era um calor muito intenso”, afirma ao PÚBLICO a professora de inglês Alessandra Castinheiras Ferreira, de 46 anos, que vive em Vila Isabel, na zona Norte do Rio de Janeiro.
A sensação muito intensa de calor foi sentida de forma generalizada na cidade. No sábado, Alessandra Castinheiras deslocou-se da zona Norte para a Sul, onde a percepção física do calor era difícil de tolerar.
“Fui a um enterro, por volta de 14h, no Cemitério de São João Baptista, em Botafogo. [O espaço] estava sem luz, ou seja, não havia nem ar condicionado nem ventilador. Era um calor insuportável”, descreve a professora carioca.
Experiência semelhante teve a jornalista Mayra Coelho, de 44 anos, que vive na Tijuca, também na zona Norte da cidade. “Precisava sair sábado de manhã, mas não tive coragem. Acabei só saindo perto do meio-dia, para ir bem perto da minha casa. Fui na costureira e no relojoeiro e não tive coragem de andar mais de 500 metros”, relata.
Mayra Coelho diz ter tomado quatro banhos frios, além de ter passado a maior parte do dia numa divisão com ar condicionado. “Antes de sair, tinha tomado banho e voltei… de banho tomado – [mas] de suor. Tenho um cachorro, da raça cocker spaniel, e não tive coragem de levá-lo na rua antes de o sol se pôr. Saímos 18h30 para andar e ainda estava 32 graus Celsius”, conta a jornalista carioca de 44 anos.
A sensação térmica suavizou no domingo, embora se tenha mantido bastante alta. A estação de Santa Cruz registou 50,8 graus Celsius ao meio-dia, ao passo que a de Irajá, na zona Norte do Rio de Janeiro, indicava a sensação térmica de 48 graus às 13h30 de domingo.
O que é a sensação térmica?
A temperatura que o termómetro regista pode não coincidir com aquela que o corpo humano percepciona. A sensação térmica não depende apenas na temperatura mas também da “humidade existente no ar que nos rodeia”, como referido no site do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
“Assim, o nosso corpo reage diferentemente, a fim de estabelecer uma condição de equilíbrio com a temperatura corporal média, aproximadamente 37 graus Celsius”, refere a mesma fonte.
Uma iniciativa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) está precisamente a tentar monitorizar as zonas quentes da cidade, incluindo dados de sensação térmica, para que os cientistas possam propor medidas de adaptação específicas para cada região.
“O Rio sofre com a insalubridade térmica. É uma das cidades mais quentes do Brasil e não está preparado para enfrentar a elevação de temperatura e as ondas de calor, cada vez mais frequentes”, afirmou ao jornal brasileiro O Globo Núbia Beray, coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Geografia do Clima (GeoClima) da UFRJ.
O GeoClima está a coordenar o Observatório do Calor, um programa internacional de monitorização e mapeamento urbano. No Rio de Janeiro, foram seleccionadas 19 áreas quentes, que estão a ser acompanhadas por dados de satélite e análise de temperatura. A iniciativa conta com 66 voluntários, incluindo estudantes, líderes comunitários e profissionais que trabalham ao ar livre.
Numa medição realizada dia 27 de Janeiro, por exemplo, um voluntário verificou 28 graus Celsius, às 14h, no Parque Madureira – uma temperatura amena para esta estação no Rio de Janeiro –, “mas a câmara térmica do cientista americano Joey Williams mostrava que, à volta do corpo das pessoas, o ar estava a 35,5 graus e, no chão, a 45 graus”, refere o diário O Globo.