Asteróide que rasou a Terra evidencia ângulo morto no sistema de vigilância do planeta
A passagem do asteróide 2023 BU deixou a nu os problemas que temos em identificar asteróides potencialmente perigosos. Novo telescópio da NASA para o efeito só deverá ser lançado daqui a cinco anos.
A descoberta de um asteróide do tamanho de um pequeno camião poucos dias antes de fazer uma passagem rasante à Terra, que ocorreu sem perigo na quinta-feira da semana passada, embora nunca tenha sido uma ameaça para os humanos, acabou por identificar um ângulo morto na nossa capacidade de prever os asteróides que podem realmente criar problemas.
Durante anos, a NASA deu prioridade à detecção de asteróides muito maiores e mais ameaçadores do que o 2023 BU, a pequena rocha espacial que passou a 3500 quilómetros da superfícies da Terra – mais perto do que alguns satélites que temos. Se este asteróide tivesse como destino a Terra, teria sido pulverizado pela atmosfera, com apenas alguns pequenos fragmentos a poderem atingir o planeta.
O asteróide 2023 BU fica na extremidade mais pequena de um grupo de asteróides com cinco a 50 metros de diâmetro, e que também inclui objectos tão grandes quanto uma piscina olímpica. Estes asteróides são difíceis de detectar até se aproximarem muito da Terra, o que complica qualquer tentativa de preparação no caso de algum poder ter impacto numa área povoada.
A probabilidade de haver um impacto na Terra de uma rocha espacial, que quando entra na atmosfera passa a chamar-se meteoro, com este tamanho é bastante baixa e vai diminuindo à medida que a dimensão também aumenta: estima-se que uma rocha com cinco metros de diâmetro atinja a Terra uma vez por ano; uma rocha de 50 metros só acontece a cada mil anos, diz a agência espacial norte-americana NASA.
Mas os astrónomos não conseguem ver (e prever), com a tecnologia actual, quando uma destas rochas atingirá a Terra até estarmos a dias do impacto.
“Não sabemos onde está a maioria dos asteróides que pode provocar uma devastação local ou regional”, refere Terik Daly, cientista planetário do Laboratório de Física Aplicada Johns Hopkins (Estados Unidos).
O meteoro com cerca de 20 metros que explodiu em 2013 sob Chelyabinsk, na Rússia, é algo que acontece a cada 100 anos, estima o Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA. Este meteoro criou uma onda de choque depois da explosão que partiu dezenas de milhares de janelas e criou uma despesa de mais de 30 milhões de euros – e ninguém o viu a encaminhar-se para a Terra antes de ele entrar na nossa atmosfera.
Alguns astrónomos consideram que confiar apenas em probabilidades estatísticas e estimativas referentes às populações de asteróides é um risco desnecessário, adiantando que podem fazer-se melhorias na capacidade de detecção da NASA.
“Quantos riscos naturais de desastre existem em que podemos realmente fazer algo e prevenir com mil milhões de dólares? Não há muitos”, responde Terik Daly, cujo trabalho se centra na defesa da Terra face a asteróides perigosos.
Prevenir um dia bastante perigoso
Há uma actualização ao arsenal de detecção da NASA. É o NEO Surveyor, um telescópio que custou mais de mil milhões de dólares e que está em desenvolvimento, para poder ser lançado a mais de 1,6 milhões de quilómetros da Terra de forma a monitorizar um grande campo de asteróides. Este instrumento tem uma vantagem significativa face aos actuais telescópios terrestres, que são prejudicados pela luz do dia e pela atmosfera da Terra – algo que não afectará o NEO Surveyor.
Este novo telescópio vai ajudar a NASA a cumprir um objectivo definido pelo Congresso norte-americano já em 2005: detectar 90% de todos os asteróides maiores que 140 metros, ou grandes o suficiente para destruir desde uma região a um continente inteiro.
“Com o NEO Surveyor estamos focados em encontrar o asteróide que poderá causar um dia realmente terrível para muita gente”, explica Amy Mainzer, investigadora principal do telescópio. “Mas temos também a tarefa de obter boas estatísticas sobre objectos mais pequenos, perto do tamanho do Chelyabinsk.”
A meta proposta pelo Congresso dos Estados Unidos já ficou ultrapassada, dado que era suposto ter sido atingida até 2020. A agência espacial norte-americana propôs no ano passado cortar o orçamento deste ano do telescópio em 75% e atrasar o seu lançamento mais dois anos – até 2028 – “para apoiar missões mais prioritárias” na lista de tarefas da NASA.
A detecção de asteróides ganhou um novo fôlego o ano passado, depois de a NASA lançar de propósito uma sonda contra um asteróide para testar a sua capacidade de defesa de uma rocha espacial potencialmente perigosa e que esteja em rota de colisão com a Terra.
O ensaio bem-sucedido da DART, nome da missão, mostrou pela primeira vez que temos uma estratégia de defesa do planeta Terra.
“O NEO Surveyor é extremamente importante, especialmente agora que sabemos, com a DART, que podemos realmente fazer algo quanto a isto”, diz Terik Daly. “Portanto, temos que encontrar estes asteróides.”