As borboletas estão a desaparecer: no Reino Unido, 80% estão em declínio

Muitas borboletas perderam o seu habitat e cerca de 42% já não são vistas em locais onde eram presença assídua no Reino Unido. “É um desafio tremendo.”

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A borboleta Cethosia cyane no Reino Unido TOBY MELVILLE/REUTERS

Há cada vez menos borboletas a voar pelas cidades e pelos campos. No Reino Unido, um novo relatório comprova esta perda: desde a década de 1970, houve uma diminuição de 80% das borboletas e quase metade das espécies de borboletas nativas do Reino Unido desapareceram dos locais onde costumavam voar. Os números fazem parte do relatório de 2022 do estado das borboletas no país, feito pela associação Butterfly Conservation, e servem de alerta para a crise de biodiversidade que se vive a nível mundial.

Para este estudo foram analisados 23 milhões de registos relacionados com 58 espécies nativas do Reino Unido e percebeu-se que estes insectos coloridos estão a desaparecer não só das cidades, mas também dos campos e das florestas. Em alguns habitats mais específicos, como as várzeas e certos prados, as borboletas que só vivem nesses locais estão a desaparecer a um ritmo mais elevado.

Há também boas notícias: 56% das espécies de borboletas registaram um aumento na abundância ou distribuição e muitos dos planos de conservação de borboletas estão a ter bons resultados. Um dos exemplos de sucesso é a Phengaris Arion, que foi declarada extinta no Reino Unido em 1979 mas conseguiu “ressuscitar” no país através da introdução pelos humanos de larvas vindas da Suécia. Esta borboleta não existe em Portugal, e mesmo a recuperação no Reino Unido tem sido modesta: a sua abundância aumentou em 1,8%.

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A borboleta Phengaris Arion PJC&Co/DR

Ainda assim, a média torna evidente o declínio: as borboletas no Reino Unido perderam 42% da sua distribuição de 1976 a 2019 e 6% da sua abundância total nos lugares monitorizados que são, por norma, reservas naturais. Um exemplo é a borboleta canela (Hipparchia semele), que teve um declínio de 92% na sua distribuição e de 72% na sua abundância entre 1976 e 2019.

Sabia que...

...há um "censos" de borboletas em Portugal? Qualquer pessoa pode contar borboletas e ajudar a avaliar o estado de conservação destes insectos coloridos que se encontram ameaçados. Em três anos de projecto foram vistas mais de 30 mil borboletas por todo o país. Pode ler mais aqui.

A abundância refere-se à frequência de indivíduos de uma determinada espécie num determinado local e a distribuição refere-se à área geográfica ocupada pelos indivíduos dessa mesma espécie. Em suma: abundância refere-se à quantidade de insectos; distribuição refere-se à área que ocupam.

Mesmo os números bons são maus

Os dados a longo prazo mostram mesmo que houve um declínio de cerca de 80% das espécies de borboletas (ora na abundância, ora na sua distribuição) desde a década de 1970.

“Temo-nos focado nas espécies de borboletas mais ameaçadas, para evitar que fiquem extintas”, afirmou Richard Fox, principal autor do relatório do estado de conservação das borboletas, citado pelo jornal britânico The Guardian. “Mas há um desafio tremendo evidenciado em milhões de dados no relatório”, diz, defendendo que é preciso que haja uma mudança na abordagem. As medidas em vigor não estão a ser suficientes e não se está a conseguir travar a perda da vida selvagem, diz o investigador.

As borboletas funcionam também como indicadores da biodiversidade e põem em evidência o desaparecimento de outros insectos voadores. Um estudo feito na Alemanha mostra que, em 27 anos, desapareceram 75% dos insectos voadores que existiam em reservas naturais.

Na Escócia os números estão a melhorar, mas em Inglaterra o caso é mais sombrio (e cada vez menos colorido). Ainda assim, Richard Fox diz que os bons resultados da Escócia surgem devido ao grande aumento de algumas espécies de borboletas, que só aconteceu porque estes insectos migraram para Norte por causa das alterações climáticas. “Não é motivo para celebração”, diz o cientista, até porque algumas das espécies escocesas mais emblemáticas apresentam maus resultados.

Na Irlanda do Norte, as borboletas também continuam a desaparecer e há uma espécie que parece estar próxima da extinção (a borboleta-salta-cercas, Lasiommata megera) – só foram avistadas três borboletas num período de cinco anos. Já a borboleta Leptidea juvernica teve uma melhoria dos seus números desde relatórios anteriores.

Mas o relatório mostra que a ameaça é grave e que também a quantidade de habitats apropriados para estas borboletas está a decrescer. Os principais factores que contam para o desaparecimento das borboletas são as alterações climáticas, a destruição de habitats, a falta de alimento, os insecticidas, a poluição do ar e a agricultura intensiva.