Aiza Saeed continua a chamar os amigos até à cave do centro estudantil da Universidade de George Washington, em Washington DC, para lhes mostrar a nova máquina de venda automática. Nela, ao lado de ibuprofeno e tampões, encontram o método contraceptivo de emergência, também conhecido como “pílula do dia seguinte”.
Saeed, estudante da Florida, juntou-se a outras pessoas no campus para tornar a pílula mais acessível para os estudantes. De acordo com os estudantes, a máquina assegura que os comprimidos são mantidos numa temperatura apropriada, que são vendidos com avisos e não são dispensados após o prazo de validade – e está disponível numa localização relativamente discreta.
“Podes ir buscar doritos e um Plan B ao mesmo tempo”, diz Saeed, em referência ao nome da marca de uma pílula.
A medida foi levada a cabo por Saeed e Neharika Rao, estudante do 2.º ano da Califórnia e antiga presidente do conselho estudantil, depois de receberem uma sugestão do presidente da Associação de Estudantes de George Washington, na sequência de o Supremo Tribunal ter revogado do direito ao aborto nos EUA no caso Dobbs, no ano passado.
Christian Zidouemba, presidente da associação de estudantes de George Washington, é natural do Burkina Faso e afirma que lá as normas culturais tornam alguns produtos de saúde tabu, mas ele considera que é importante para os estudantes terem acesso a esses mesmos produtos.
Depois de ouvir como os estudantes se sentiam por o juiz do Supremo Tribunal Clarence Thomas – que votou pelo fim do direito constitucional ao aborto – ser professor na faculdade de Direito (incluindo exigir que ele fosse demitido), Zidouemba sentiu-se na obrigação de responder. Para tal, procurou ideias para responder às preocupações dos alunos; e foi assim que descobriu as máquinas de venda automática.
De acordo com um porta-voz da universidade, a empresa das máquinas de venda automática fornece a pílula e nem a escola, nem os alunos compraram ou subsidiaram o produto. A Universidade de George Washington disponibilizava, anteriormente, este método contraceptivo através do centro de saúde estudantil.
Muitas destas unidades de saúde disponibilizam a pílula do dia seguinte a estudantes, mas muitas vezes é demasiado cara ou pode não estar acessível quando é necessário – como ao fim-de-semana ou à noite. Em cada vez mais universidades um pouco por todo o país há estudantes activistas a tentar garantir que o método está facilmente disponível e a um preço acessível.
O interesse na pílula do dia seguinte tem crescido desde a reversão de Roe vs. Wade, particularmente nos programas universitários, afirma Kelly Cleland, directora executiva da Sociedade Americana para a Contracepção de Emergência. A organização sem fins lucrativos ajuda estudantes universitários a terem acesso ao produto através do programa “Contraceptivo de emergência para todos os campus”. Já trabalharam com estudantes em mais de 70 espaços em de 31 estados norte-americanos.
A pílula do dia seguinte está disponível há 20 anos e é vendida sem restrições nos EUA desde 2014.
Há dez anos, a pílula foi acrescentada às máquinas de venda automática na Universidade Pública da Pensilvânia, afirmou Cleland. Neste momento, há cerca de 32 campus com máquinas semelhantes. Muitas oferecem o medicamento a um preço mais baixo do que nas farmácias, onde é comum pagar 50 dólares (cerca de 46 euros) por ele.
De acordo com um representante da Universidade, a pílula na máquina de venda automática – disponibilizada em genérico – custa 30 dólares (cerca de 27,70 euros) mais taxas.
Rao afirma que alguns estudantes queriam ter a certeza que as propinas não estavam a subsidiar as pílulas e foi garantido que não. A organização GW Students for Life não quis comentar.
Zidouemba relembra os pedidos dos estudantes: a pílula a um preço mais baixo e mais máquinas de venda automática na zona dos dormitórios, onde podem ter acesso aos produtos quando precisam deles. “De forma geral, a reacção é de que precisamos deste produto na faculdade e temos de garantir que se tornam produtos mais baratos e mais discretos para que as pessoas os adquiram”, diz.
Rao afirma que esperam que, no futuro, os custos sejam ainda mais subsidiados. “Nós pedimos apoios”, disse Saeed.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post