Mobilização contra a reforma das pensões de Macron foi a maior em 30 anos

Doze dias depois da greve geral anterior, entre 1,2 e 2,8 milhões de pessoas estiveram na rua em 200 cidades de França. Entre os franceses, cresce o apoio aos protestos.

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Manifestantes com a bandeira da central sindical Confederação Geral do Trabalho na manifestação de Paris BENOIT TESSIER/Reuters

Menos de duas semanas depois de uma jornada de contestação histórica, quando saíram à rua entre um e dois milhões de pessoas, a segunda greve geral desde que o Governo francês anunciou a reforma das pensões mobilizou ainda mais gente esta terça-feira e terminou com a promessa de mais greves a partir da próxima semana, quando a proposta de lei chegar à Assembleia Nacional.

De acordo com os sindicatos, 2,8 milhões de pessoas manifestaram-se em 200 cidades e localidades de França; a polícia fala em 1,3 milhões – acima do número oficial dos que saíram à rua a 19 de Janeiro, que foi de 1,1 milhões –, um recorde contra uma reforma da segurança social desde 1995, quando Jacques Chirac tentou alterar alguns regimes especiais e desistiu, confrontado com a maior greve desde 1968.

Divididos num braço-de-ferro aparentemente sem solução, o Governo de Emmanuel Macron e as oito maiores centrais sindicais do país, unidas pela primeira vez em 12 anos (e apoiadas por toda a oposição de esquerda e por organizações de jovens), recusam ceder. Repetindo o que já dissera depois da greve geral de há 12 dias, a primeira-ministra, Élisabeth Borne, afirmou ainda antes da greve que não haverá recuo no aumento da idade mínima da reforma, dos 62 anos para os 64, algo que oposição e sindicatos recusam. “Isto não é negociável”, disse Borne.

Ao final do dia, depois de ver as multidões na rua, garantiu que está atenta, mas que o objectivo do Governo não se altera. “A reforma das pensões suscita interrogações e dúvidas. Estamos a ouvi-las”, escreveu no Twitter. “O debate parlamentar vai começar. Permitirá, com toda a transparência, enriquecer o nosso projecto com um objectivo: assegurar o futuro do nosso sistema redistributivo. É a nossa responsabilidade.”

Ao mesmo tempo que a contestação promete continuar – as oito centrais sindicais marcaram dois dias de greves e protestos, 7 e 11 de Fevereiro –, o apoio dos franceses aos protestos cresce. De acordo com uma sondagem do instituto OpenWay divulgada na segunda-feira, 61% concordam com a mobilização, o que representa um aumento de três pontos percentuais desde 12 de Janeiro.

“Quanto mais os franceses sabem sobre a reforma, menos a apoiam”, disse à France 24 Frederic Dabi, especialista em sondagens do instituto IFOP. “Isto não é nada bom para o Governo.”

Os dois principais pontos da proposta de lei, para além da idade da reforma, a antecipação, de 2035 para 2027, do aumento de 42 para 43 anos de contribuições para a reforma completa, são precisamente os que encontram maior oposição: segundo a mesma sondagem, 66% dos franceses dizem-se contra o aumento da idade da reforma, 60% opõem-se ao aumento nos anos de contribuições.

Em antecipação do debate que se abre segunda-feira na câmara baixa do Parlamento, foram apresentadas mais de 7000 propostas de emendas, a maioria pela União Sindical Solidários e a Nova União Popular Ecologista e Social (NUPES), a aliança de esquerda liderada por Jean-Luc Mélenchon. A imprensa francesa explica que, com o apertado calendário previsto para o debate, é possível que os deputados não consigam chegar ao fim do texto nos prazos permitidos.

Macron diz ter sido reeleito precisamente para pôr em prática a sua reforma do sistema de pensões, que garante ser “legítima”, “necessária” e “responsável”. Com uma maioria relativa, o Presidente conta com o anunciado apoio d’Os Republicanos. Mas quanto mais dura a contestação, mais crescem os deputados sem certezas sobre o seu voto, não só na bancada do partido de direita como entre os eleitos da aliança presidencial (Juntos).

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