Procura mundial de ouro atinge em 2022 nível mais elevado da década

Procura do metal precioso por parte dos bancos centrais foi um dos factores que impulsionaram evolução no ano passado.

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Bancos centrais utilizam o ouro “como uma reserva de valor a longo prazo” Ricardo Lopes

A procura global de ouro atingiu em 2022 o nível mais alto desde 2011, impulsionada por compras recorde dos bancos centrais, que mais do que duplicaram num ano, segundo um relatório do Conselho Mundial do Ouro publicado esta terça-feira.

A procura de ouro no conjunto do ano de 2022 atingiu as 4740,7 toneladas, um aumento de 18% em relação a 2021, impulsionado por um forte quarto trimestre.

“A grande surpresa do ano foi obviamente a procura recorde dos bancos centrais, que atingiu o nível mais alto dos últimos 55 anos, tendo, só no segundo semestre do ano, gerado compras de mais de 800 toneladas”, afirmou a analista do Conselho Mundial do Ouro (WGC, do inglês World Gold Council) Louise Street, em declarações à agência AFP.

Durante o ano passado, a procura de ouro por parte destas instituições mais do que duplicou, atingindo 1135,7 toneladas, contra 450,1 toneladas no ano anterior.

Conforme explica a analista do WGC, o ouro é muito valorizado pelos bancos centrais, que o utilizam “como uma reserva de valor a longo prazo”, sobretudo porque se comporta bem em tempos de crise, servindo de baluarte contra a inflação.

As compras de barras e moedas de ouro mantiveram-se em 2022, continuando a atrair investidores em vários países, compensando a fraca procura da China. No total, os investimentos em barras e moedas totalizaram 1217,1 toneladas em 2022, contra 1190,9 em 2021.

Já os sectores de joalharia e da tecnologia registaram uma leve quebra na procura, caindo respectivamente 2% e 7% no ano passado (2189,8 toneladas no caso das jóias e 308,5 toneladas na tecnologia).

A desaceleração da procura no sector tecnológico é explicada principalmente pela persistência de problemas na cadeia de abastecimento desde a pandemia da covid-19, tendo a desaceleração económica global também pesado na procura por parte dos consumidores.

Em relação às jóias em ouro, os mercados da Índia e da China desempenham um papel central. Tradicionalmente, as famílias aproveitam os casamentos e outras celebrações para converterem parte das suas poupanças em lingotes, colares, anéis, pulseiras e outros objectos de ouro, o derradeiro porto seguro.

Contudo, até Dezembro, a China manteve em vigor uma política sanitária muito rigorosa, denominada “covid zero”, que impunha testes de despiste generalizados, monitorização rigorosa das movimentações e também confinamentos e quarentenas obrigatórios, assim que novos casos eram descobertos. O abandono dessa política desencadeou um forte aumento dos casos de covid-19.

O resultado foi uma quebra de 15% da procura de jóias na China e um recuo de 24% dos investimentos em ouro e moedas.