Economia cresce 0,2% no final de 2022 e escapa à recessão

Economia portuguesa continuou a crescer de forma ligeira no final do ano passado e garantiu, para o total de 2022, uma variação do PIB de 6,7%, a maior desde 1987.

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Nuno Ferreira Santos

Apesar de estar a sentir o efeito negativo da subida da inflação e das taxas de juro, a economia portuguesa conseguiu, no último trimestre do ano, continuar a apresentar um ritmo de crescimento ligeiro, o que lhe garantiu uma variação do PIB de 6,7% no total de 2022, um resultado acima daquilo que era esperado pelo Governo.

A primeira estimativa para o valor do PIB do quarto trimestre do ano passado divulgada esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) veio confirmar as mais recentes expectativas em relação à economia portuguesa: o crescimento continua a ser positivo e a crise inflacionista que está a atravessar o país ainda não está a conduzir a uma recessão.

O PIB cresceu 0,2% entre o terceiro e o quarto trimestre, em cadeia, tendo a variação face ao período homólogo do ano anterior ficado nos 3,1%.

Estes números representam um abrandamento face aos resultados do terceiro trimestre, período em que a economia portuguesa registou um crescimento em cadeia de 0,4% e homólogo de 4,9%.

De qualquer modo, numa altura em que se temia na generalidade da zona euro que as economias pudessem registar um recuo no final de 2022, que levasse depois à entrada em recessão técnica (dois trimestres consecutivos de variação negativa do PIB em cadeia) no primeiro trimestre de 2023, a economia portuguesa conseguiu manter o seu ritmo de crescimento em terreno positivo, tornando menos provável o cenário de recessão.

De notar que o quarto trimestre do ano foi aquele em que os portugueses, para além de terem de suportar taxas de inflação bastante elevadas, começaram a sentir em força o efeito da subida das taxas de juro nas suas prestações de crédito, o que reduz a sua capacidade para consumir. Em contrapartida, contudo, este também foi o trimestre em que receberam do Estado os apoios extraordinários que foram criados precisamente para mitigar os efeitos da inflação.

Na estimativa rápida divulgada esta terça-feira, o INE não apresenta os dados relativos às diversas componentes do PIB. Ainda assim, revela que, para o crescimento em cadeia de 0,2% no quarto trimestre, se assistiu a uma diminuição do contributo positivo da procura interna, tendo a procura externa líquida mantido um contributo “ligeiramente negativo”.

No total de 2022, o resultado agora obtido significa que a variação anual do PIB foi de 6,7%, o resultado mais alto desde 1987 e uma aceleração face aos 5,5% de 2021. O desempenho é também ligeiramente mais positivo do que os 6,5% projectados pelo Governo em Outubro, ficando no entanto abaixo da previsão de 6,8% feita pelo Banco de Portugal em Dezembro.

O forte crescimento da economia portuguesa nestes dois últimos anos deve-se, em larga medida, ao regresso da actividade nos sectores que praticamente estagnaram em 2020, no auge da pandemia. Em 2022, a retoma do sector do turismo no primeiro trimestre foi responsável por grande parte do resultado agora obtido para a totalidade do ano. A economia portuguesa já conseguiu assim, depois da queda de 8,3% em 2020, regressar aos níveis em que se encontrava antes da pandemia.

Feita esta retoma, a expectativa é a de que a economia, tal como já vem acontecendo desde o segundo trimestre de 2022, apresente níveis bem mais moderados de crescimento. O Governo aponta para uma variação do PIB este ano de 1,3%, enquanto o Banco de Portugal tem uma previsão de crescimento de 1,5%.

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Acima da média europeia

O crescimento de 0,2% registado pela economia portuguesa no quarto trimestre do ano passado está em linha com aquilo que aconteceu no resto da zona euro.

Até há poucas semanas, a generalidade dos analistas apontava para a possibilidade de a economia da zona euro, afectada pela subida da inflação e das taxas de juro, entrar em recessão técnica durante o quarto trimestre de 2022 e o primeiro trimestre de 2023. No entanto, mais recentemente, tendo em conta a evolução de alguns indicadores de actividade nas maiores economias europeias, reduziu-se o pessimismo. Os dados publicados esta terça-feira pelo Eurostat para o PIB da zona euro confirmaram essa visão mais favorável.

A economia da zona euro abrandou no quarto trimestre, é certo, mas ainda assim conseguiu registar uma variação positiva do PIB, de 0,1%, o que significa que, para já, consegue evitar o cenário de recessão. Em termos homólogos, o crescimento na zona euro foi de 1,9%, menos que os 2,3% do terceiro trimestre.

De notar, contudo que algumas economias dentro da zona euro podem estar mesmo já em recessão, com destaque para a maior de todas. A Alemanha registou uma variação do PIB no quarto trimestre de -0,2%, entrando pela primeira vez desde a pandemia em terreno negativo.

Também a Itália registou uma retracção na sua economia, com um recuo de 0,1%. Espanha e França conseguiram variações positivas do PIB, de 0,2% e 0,1%, respectivamente.

Portugal, com o crescimento em cadeia de 0,2% e homólogo de 3,1%, manteve, tal como já tinha acontecido no terceiro trimestre de 2022, um desempenho acima da média da zona euro e da União Europeia. Entre os 12 países da UE para os quais já há dados disponíveis, a variação homóloga do PIB no quarto trimestre de Portugal, face a igual trimestre de 2021, apenas é superada por um país, a Irlanda.

Em termos anuais, o resultado obtido por Portugal, que tinha sido pior que a média em 2020, mas melhor em 2021, voltou em 2022 a superar largamente o do conjunto dos outros países da zona euro e da União Europeia. Enquanto Portugal cresceu 6,7% em 2022, a zona euro cresceu 3,5% e a União Europeia 3,6%.

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