PCP vai propor um debate de actualidade sobre ferrovia no Parlamento

Jornadas parlamentes do PCP arrancaram com viagem de comboio de Lisboa a Beja. Comunistas defendem ligar a rede ferroviária ao aeroporto de Beja e electrificar toda a linha do Alentejo.

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Margem do rio Guadiana (Beja) Jose Fernandes

Como boa parte dos passageiros que esta manhã apanharam o comboio 590 com destino em Évora, para a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, e para o deputado Bruno Dias, a bordo desde o Pragal, a viagem terminou em Casa Branca. Esta segunda e terça-feira, os comunistas realizam as suas jornadas parlamentares em Beja, mas não existe ligação directa de Lisboa à capital daquele distrito alentejano, um problema que, segundo as comissões de trabalhadores e os próprios utentes da CP, afecta a população local.

Numas jornadas que têm como mote o desinvestimento na ferrovia, antes mesmo de o comboio passar pelo Pinhal Novo, numa das 57 carruagens corail modernizadas no tempo do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, os deputados tinham dado início aos trabalhos e estavam reunidos com as organizações de trabalhadores regionais da Comboios Portugal (CP) e das Infra-estruturas de Portugal (IP).

Do lado da CP, o rol de problemas era suficiente para ocupar a conversa durante a viagem inteira: desde a falta de trabalhadores e carruagens à supressão de viagens, passando pela ausência da manutenção dos comboios ou pelas falhas na informação ao público.

Ouvida pelos deputados, Catarina Cardoso da comissão de trabalhadores da empresa denunciou que existe uma grande falta de pessoal “a todos os níveis”, que impede a reparação e a manutenção dos comboios, fruto dos “baixos salários” praticados e da “falta de contratação”. Os trabalhadores especializados das oficinas, por exemplo, “não aceitam” os cargos “ou quando aceitam”, o salário é tão baixo e “não há perspectiva de valorização, que desistem”, exemplificou.

Já Jorge Costa, também da comissão da CP, queixou-se da forma “surreal” como a informação é prestada ao público actualmente, quando, no passado, já foi “mais correcta e uniforme”. O problema está essencialmente em ser dada de forma “mecânica” o que gera uma série de falhas: comboios que supostamente estão atrasados chegam a horas, viagens anunciadas que não existem, anúncios sonoros imperceptíveis ou feitos em cima da hora… Já para não falar das estações sem qualquer informação disponível como Grândola. “Uma pessoa está na estação, está perdida”, lamentou.

Pela IP, Jorge Freitas destacou igualmente a incapacidade da empresa de “fixar técnicos” devido à falta de “autorização da tutela para a IP contratar” mais trabalhadores. “Tudo se baseia no défice de trabalhadores”, garantiu. Mas a falta de um plano para ligar Beja a Ourique e a inexistência de uma ligação ao aeroporto alentejano motivam igualmente críticas. É que até o PS decidir sobre o aeroporto de Lisboa, o de Beja "ficará sempre limitado em termos de acessibilidades", censurou.

Do lado dos passageiros, o cenário não é diferente. Maria Antónia Sobral, que se encontrava a fazer a viagem de Casa Branca a Beja, lembrou que existem várias estações fechadas, como a de Grândola ou do Alvito, e criticou a dificuldade do acesso a bilhetes por não existirem funcionários suficientes nas bilheteiras. Um problema que, diz, afecta sobretudo a "população envelhecida", já que a venda acaba por ser realizada online.

Em jeito de resposta às queixas, o deputado João Dias, eleito pelo distrito, que se juntou à comitiva em Casa Branca, defendeu ser essencial ligar a linha do Alentejo a Évora de forma directa, considerando que "a população de Beja está cansada que lhe joguem areia para os olhos".

Já em Beja e ainda na estação, a líder da bancada defendeu a "modernização e electrificação da linha" do Alentejo e a "reabertura para o transporte de passageiros entre Beja e a Funcheira", mas foi sobretudo na criação de uma ligação ferroviária ao aeroporto de Beja que se centrou nas declarações aos jornalistas. "Isso é fundamental porque o aeroporto de Beja tem imensas potencialidades que devem ser aproveitadas em prol do desenvolvimento de Beja e do país" e do "incremento da actividade produtiva" do distrito, defendeu.

Face aos problemas somados, a líder do grupo parlamentar anunciou que o PCP irá propor um debate de actualidade sobre a ferrovia no Parlamento.

Questionada pelos jornalistas sobre o reconhecimento de Beja como uma localização possível para o novo aeroporto de Lisboa por parte da Comissão Técnica Independente, Paula Santos defendeu a solução do campo de tiro de Alcochete, considerando que o de Beja "tem potencialidades por si só".

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