Até Setembro, Aleksei Antropov tocava contrabaixo na Orquestra Filarmónica Russa, em Moscovo. Mas quando o Presidente Vladimir Putin anunciou a primeira mobilização militar da Rússia desde a Segunda Guerra Mundial para dar gás à vacilante invasão da Ucrânia, o jovem de 29 anos foi para a vizinha Geórgia, onde trabalha actualmente como recepcionista de hotel.
O músico clássico é um dos milhares de russos, muitos deles jovens, que deixaram o país para evitar serem chamados para lutar numa guerra com a qual muitos nem sequer concordam.
Tbilisi, a capital da Geórgia, tornou-se um destino popular, porque pode ser alcançada por terra, tem leis de entrada e saída relativamente relaxadas e mantém estreitos laços culturais com a Rússia.
Antropov embarcou numa nova vida no exterior. Inicialmente morou numa pensão nos arredores de Tbilisi, até que se mudou para um apartamento com amigos enquanto mantém um emprego modesto.
Também mantém a paixão pela música viva e juntou um pequeno grupo de músicos clássicos que, tal como ele, são russos, com o objectivo de actuar em Tbilisi e possivelmente em Yerevan, a capital da vizinha Arménia.
"Neste momento estou sem orquestra," contou Antropov à Reuters. "Então, estou a construir a minha própria orquestra."
Para o primeiro ensaio no fim de Dezembro, que teve lugar numa cave arrendada no centro de Tbilisi, comprou um monte de bancos de plástico baratos para que os músicos se pudessem sentar.
Antropov não tenciona de regressar à Rússia no futuro, mesmo que a liderança política mude. "O próximo Putin da Rússia pode ser ainda pior que o actual", diz, enquanto se senta num café da Geórgia que serve comida tradicional.
Ao recordar a viagem até à Georgia, diz que demorou três dias a atravessar a fronteira para Verkhny Lars, devido ao comprimento das filas de pessoas a fugir da Rússia.
"O caminho até à fronteira fez-se por estradas secundárias, subornando polícias e caminhando por mais de 10 quilómetros por uma montanha acima", relembra, com um sorriso irónico. Agora espera espera, um dia, comprar uma casa em Tbilisi.
"Preciso de uma casa, um lugar para onde eu possa voltar e espero que Tbilisi se torne nessa casa para mim. É uma cidade muito bonita."
Uma grande perda
Grigory Dobrynin é baterista da banda Russa SBPCh (iniciais russas para "o maior número primo").
Depois de Moscovo ter lançado a invasão em grande escala à Ucrânia a 24 de Fevereiro, também ele deixou o país em direcção à Geórgia, levando apenas uma mala cheia de pertences e dois chapéus que costumava usar em concertos.
Enquanto os SBPCh continuam a actuar numa versão mais reduzida, Dobrynin agora passa grande parte do tempo no Practica, um espaço de ensaio em Tbilisi projectado pelos organizadores como um ponto de encontro para músicos do país e de fora.
As jam sessions acontecem a cada duas semanas, enquanto Dobrynin dá aulas de bateria. "Não acho que dar aulas seja um passo atrás. Dar aulas e tocar numa banda são coisas completamente diferentes e que não podem ser comparadas", conclui. "Mas, para ser sincero, tenho saudades dos espectáculos e concertos. Foi uma grande perda".
A cantora e guitarrista russa Anastasia Ivanova, mais conhecida pelo nome artístico Grechka, conseguiu manter a tour, mas não voltou a actuar na Rússia desde que deixou o país na passada Primavera, alegando estar numa "lista negra" por se opor à guerra.
A jovem de 22 anos, que também se estabeleceu em Tbilisi, contou à Reuters que actuou na Ucrânia depois de a Península da Crimeia ter sido ilegalmente anexada por Moscovo em 2014. "Fui muito bem recebida pelo público ucraniano", diz. "Portanto, quando a televisão russa diz que os ucranianos odeiam os russos, eu sei que é um disparate."