Keyla Brasil, a artista trans, trabalhadora do sexo e activista que interrompeu a peça Tudo Sobre a Minha Mãe no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, foi encontrada esta segunda-feira e está "em segurança", anunciou a Casa T, centro de acolhimento e sociabilização para pessoas trans.

A actriz estava desaparecida e incontactável desde a tarde de sexta-feira. A informação tinha sido veiculada este domingo, nas redes sociais, pela Casa T, em Lisboa, onde Keyla tem vivido no último ano e com quem a artista estava a comunicar diariamente desde que se tinha refugiado numa floresta em Tábua, no distrito de Coimbra, depois de ter recebido ameaças de morte devido ao protesto no São Luiz.

Depois de mais de 72 horas sem notícias da activista, as responsáveis da Casa T anunciaram na rede social Instagram que Keyla "foi encontrada hoje [segunda-feira] e está em segurança". Acrescentam: "Ela se manterá em recolhimento para que possa se recuperar de tudo o que está passando".

Telemóvel estava desligado

Segundo as responsáveis da Casa T, Keyla Brasil enviou “três pedidos de socorro a três pessoas diferentes da comunidade transvestigênere” às 15h14 de sexta-feira. “Não foi uma comunicação convencional”, afirmaram ao PÚBLICO esta segunda-feira de manhã.

Logo após esses pedidos, saíram de Lisboa em direcção a Tábua. “A Keyla já não estava lá. A gente fez uma pequena busca no lugar onde ela estava hospedada, e assim que percebemos que os pertences dela não se encontravam lá, a gente se dirigiu imediatamente à esquadra da GNR de Tábua para apresentar a denúncia de desaparecimento.” Desde então, o telemóvel de Keyla encontrava-se desligado.

Tentaram que a denúncia fosse registada nessa sexta-feira à noite, mas não aconteceu. Pediram-lhes para voltar no sábado de manhã, dia em que o processo foi efectivamente aberto. “Na esquadra disseram-nos que não estavam entendendo essa situação como um desaparecimento. Foram extremamente relutantes”, apontaram as responsáveis pela Casa T.

O PÚBLICO contactou a comandante de destacamento da GNR de Lousã, responsável por veicular informações sobre este caso. Segundo a tenente, o posto de Tábua não registou a denúncia na sexta-feira porque não lhes foi passada a informação de que havia ameaças de morte. “Como se trata de uma pessoa maior de idade, sem suspeitas de tendências suicidas e sem outros problemas clínicos, não se considera um desaparecimento.” O dado sobre as ameaças de morte só lhes terá sido comunicado no sábado, iniciando-se então as buscas. No entanto, a Casa T diz que referiu e sublinhou a existência de ameaças de morte logo na sexta-feira. “Explicámos todo o contexto.”

Antes de se saber que Keyla Brasil foi encontrada em segurança, a Polícia de Segurança Pública (PSP) confirma que tiveram conhecimento do caso no sábado, e que todas as entidades estão informadas. A denúncia foi comunicada à PSP “dentro dos protocolos em vigor”, e foram "adoptadas medidas que, em função da situação concreta, se afiguram urgentes”. A PSP disse não poder avançar, por agora, com mais detalhes nem pronunciar-se sobre as acções em curso.

No passado dia 19, Keyla Brasil invadiu o palco do São Luiz durante o espectáculo encenado por Daniel Gorjão a partir do filme homónimo de Pedro Almodóvar, para reivindicar que a história da personagem Lola, uma trabalhadora do sexo trans, fosse contada e representada por uma actriz transgénero, e não por um actor cisgénero (quando a identidade de género de uma pessoa coincide com o sexo e género que lhe foram atribuídos à nascença). Desde o protesto, que ficou conhecido como um acto político contra o transfake, Keyla Brasil tem recebido várias ameaças de morte e mensagens de ódio, como a própria tem dado conta na sua página de Instagram.

Notícia actualizada com informação veiculada pela Casa T, dando conta de ter sido encontrada a actriz Keyla Brasil