Polícia peruana matou o primeiro manifestante em Lima
Até agora, a capital do Peru tinha sido poupada às cenas de maior violência desde que estalou a crise política e social no início de Dezembro.
Ao fim de quase dois meses de protestos no Peru, morreu no sábado à noite o primeiro manifestante em Lima, a capital, elevando para 58 o número de vítimas mortais desde o início da crise política.
O foco das manifestações antigovernamentais tem estado concentrado sobretudo nas zonas rurais do Sul do Peru, mas os promotores dos protestos têm tentado levar para Lima e para o coração político do país a sua luta. No sábado, Víctor Santisteban Yacsavilca, um homem de 55 anos, tornou-se na primeira vítima mortal da repressão policial na capital.
De acordo com a provedoria de justiça, Yacsavilca morreu na sequência de um tiro na cabeça à queima-roupa. A morte deste homem foi o desfecho trágico de uma nova jornada muito violenta no Peru. Segundo o jornal La República, a avenida Abancay transformou-se num campo de batalha, com a polícia e os manifestantes envolvidos em confrontos ao longo de duas horas. Registaram-se pelo menos 13 feridos, um dos quais em estado muito grave depois de também ter sido baleado na cabeça.
A nova manifestação ocorreu depois de o Congresso ter rejeitado a antecipação das eleições gerais, uma das principais exigências dos manifestantes, a par com a rejeição da governação da Presidente interina, Dina Boluarte. Uma sondagem publicada este domingo mostra que 76% dos peruanos desaprova Boluarte, que subiu à presidência depois da destituição de Pedro Castillo, no início de Dezembro.
Ainda mais impopular do que Boluarte é o Congresso, que merece a desaprovação de nove em cada dez peruanos, segundo a mesma sondagem. Grande parte da sociedade olha para o legislativo como um foco de instabilidade, sobretudo pela forma como banalizou o recurso ao impeachment para afastar os chefes de Estado.
Apesar de rejeitar os apelos para que se demita, Boluarte defende agora a marcação de eleições ainda para este ano – já foram adiantadas para 2024, mas os manifestantes querem que sejam mais cedo.