Memphis prepara-se para noite de protestos quando a polícia divulgar vídeo da morte de Tyre Nichols
Chefe da polícia da cidade no estado do Tennessee comparou a violência exercida pelos cinco agentes ao espancamento de Rodney King, em 1991.
A cidade norte-americana de Memphis prepara-se para uma onda de protestos quando for divulgado, esta sexta-feira à noite, o vídeo que mostra cinco agentes da polícia a espancar Tyre Nichols, um jovem afro-americano que morreu três dias depois de ter sido interpelado numa operação stop, no início do mês.
Os cinco polícias, todos negros, foram acusados de homicídio em segundo grau, agressão agravada, sequestro agravado, má conduta oficial e opressão oficial. A chefe da polícia de Memphis comparou mesmo a violência que levou à morte de Lewis, a 10 de Janeiro, ao espancamento de Rodney King em Los Angeles, há mais de 30 anos.
A morte de Tyre Nichols é o mais recente de uma série de casos a envolver agentes da polícia acusados de usar força excessiva nas mortes de afro-americanos e outras minorias nos últimos anos e que provocaram protestos públicos contra o racismo sistemático no sistema de justiça criminal dos EUA.
Protestos contra a injustiça racial eclodiram de forma generalizada após o assassínio, em Maio de 2020, de George Floyd, que morreu depois de um polícia branco de Minneapolis o ter imobilizado com um joelho no pescoço por mais de nove minutos.
Até agora, a polícia revelou poucos detalhes sobre as circunstâncias da detenção de Nichols. Até o procurador distrital do condado de Shelby, Steve Mulroy, descreveu o incidente em termos vagos ao anunciar as acusações.
Depois de Nichols ter sido parado, houve “uma altercação” na sequência da qual os polícias utilizaram gás pimenta e Nichols tentou fugir a pé, disse Mulroy. “Houve outra altercação num local próximo, na qual o senhor Nichols sofreu ferimentos graves”, acrescentou.
Espera-se que o vídeo a ser divulgado nesta sexta-feira inclua imagens capturadas por câmaras corporais, câmaras montadas nos veículos da polícia e câmaras de segurança instaladas em postes de electricidade nas proximidades.
As poucas pessoas que assistiram ao vídeo antes da sua divulgação não revelaram pormenores, mas classificaram-no como perturbador.
“Serão vistos actos que desafiam a humanidade. Será visto o desrespeito pela vida, pelo dever de cuidar que todos nós juramos”, disse a chefe de polícia de Memphis, Cerelyn Davis, à CNN nesta sexta-feira.
“Eu já era polícia durante o incidente de Rodney King e este está muito alinhado com esse tipo de comportamento… uma espécie de pensamento de grupo. Eu diria que é quase igual, se não pior”, afirmou Davis.
A comparação com o caso de Rodney King, em 1991, foi também usada pelo advogado de direitos civis Ben Crump, que representa a família de Nichols.
“Este jovem perdeu a vida de uma maneira particularmente repugnante que aponta para a necessidade desesperada de mudança e reforma para garantir que esta violência não volta a acontecer durante procedimentos de nível baixo de ameaça, como neste caso, uma operação stop”, disse Crump e o seu colega Antonio Romanucci, em comunicado.
As últimas palavras ouvidas no vídeo foram de Nichols a chamar três vezes pela mãe, acrescentou Crump.
A autópsia oficial do caso ainda não está concluída, mas Romanucci disse em entrevista à CNN na quinta-feira que um exame médico pedido pela família constatou que Nichols foi gravemente espancado.
“Os resultados indicam que o que vimos no vídeo é consistente com um espancamento, e o nosso médico legista independente autorizou-nos a citar que a hemorragia encontrada foi tão profunda que só poderia ser causada por um trauma contundente”, disse Romanucci.
Os cinco polícias – Tadarrius Bean, Demetrius Haley, Emmitt Martin III, Desmond Mills Jr. e Justin Smith – foram demitidos a 21 de Janeiro depois de uma investigação interna ter concluído que violaram várias políticas departamentais, incluindo o uso de força excessiva.
Quatro dos agentes pagaram fiança e foram libertados da prisão, informou uma afiliada local da CBS nesta sexta-feira. Haley permaneceu detido com uma fiança de 350 mil dólares (322 mil euros).
Dois membros do Corpo de Bombeiros de Memphis envolvidos na resposta ao incidente foram dispensados das suas funções enquanto se aguarda uma investigação separada.
Indignação pública
Cerelyn Davis antecipa que a divulgação do vídeo irá provocar ultraje entre a população de Memphis, mas apelou à calma. “Espero que os nossos cidadãos exerçam o seu direito, expresso na Primeira Emenda, de protestar, exigir acção e resultados, mas precisamos também de garantir a segurança da nossa comunidade”, afirmou.
O Presidente dos EUA, Joe Biden, juntou-se à família de Tyre Nichols na convocação de protestos pacíficos para a cidade no estado do Tennessee.
“Não queremos certamente ver mais ninguém ferido por causa desta terrível, terrível tragédia. E manteremos contacto próximo com as autoridades locais e estaduais”, disse esta sexta-feira à CNN John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA.
Nenhum dos ex-polícias envolvidos se mostrou disponível para comentar. Os advogados de Martin e Mills disseram que ainda estão a preparar a defesa.
Blake Ballin, advogado de Mills, referiu que o seu cliente ficou “devastado por ser acusado de um crime”. Ballin também disse que pode demorar mais duas semanas antes de os acusados serem apresentados a tribunal.