Doutorados ganham mais 950 euros do que licenciados

Fosso salarial entre sexos continuam, com as mulheres com ensino superior a auferirem, em média, 75% dos ganhos dos homens com o mesmo nível de ensino em todos os países da OCDE

Foto
Ter um doutoramento compensa em termos salariais Rui Gaudêncio

Os doutorados ganham, em média, mais 950 euros por mês do que os licenciados e três vezes mais do que um trabalhador com o ensino secundário, revela o relatório Estado da Educação 2021, divulgado esta quinta-feira.

“O investimento na qualificação tende a ser compensador nas trajectórias dos indivíduos”, afirma o Conselho Nacional de Educação (CNE) no relatório anual agora divulgado, que faz um retrato da educação em Portugal.

O estudo revela que a qualificação da população portuguesa em idade activa está a atingir níveis mais elevados de escolaridade, sendo que mais de metade da população (59,5%) já tem o ensino secundário completo.

Uma das vantagens de ter mais formação é precisamente o ordenado, segundo uma análise feita pelo CNE a dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados no Verão do ano passado.

Os investigadores do CNE estimam que um trabalhador com o ensino secundário recebe, em média, 830 euros brutos mensais, contra 2.467 euros para um doutorado. E identificaram também grandes diferenças salariais entre trabalhadores com formação superior, com um doutorado a ganhar em média mais 950 euros do que quem tem um mestrado ou licenciatura.

De acordo com o relatório, o salário bruto de um licenciado é de 1522 euros, enquanto quem tem um mestrado fica a seis euros de atingir a barreira dos 1500 euros.

Na base da tabela surgem os trabalhadores apenas com o 1.º ciclo de escolaridade, que recebem, em média, 709 euros brutos, um valor que vai subindo e chega aos 830 euros para quem terminou o ensino secundário.

Um nível de escolaridade mais elevado também significa maiores probabilidades de ter um emprego, “sendo relevante ter concluído pelo menos o ensino secundário”: A taxa de empregabilidade entre os que completaram o ensino superior era de 83% e para os que completaram o ensino secundário ou pós-secundário situava-se nos 71,3%, refere o estudo.

Numa comparação com outros países da Europa, em Portugal parece ser mais fácil encontrar emprego, mesmo quando se tem pouca formação: A taxa de empregabilidade entre os jovens com apenas o ensino básico é de 63,5%, enquanto a da média europeia é de 52,1%.

Um em cada dez jovens não trabalha nem estuda

Em 2021, quase um em cada dez jovens (9,5%) entre os 15 e os 29 anos não estudava nem trabalhava, sendo este um problema que afecta mais as mulheres (9,7%) do que os homens (9,5%) e os que têm menos formação.

Nos últimos anos, as mulheres começaram a destacar-se nos estudos, tendo um nível de escolaridade superior ao dos homens, mas continua a ser mais difícil arranjarem emprego ou terem melhores salários. “Em 2021, a taxa de emprego dos recém-diplomados homens foi de 81,1% e nas mulheres de 78,2%”, refere o estudo, que aponta como possível justificação para esta diferença o facto de os homens tenderem a procurar áreas de formação com mais empregabilidade.

A esta realidade soma-se o facto de as mulheres com ensino superior auferirem, em média, 75% dos ganhos dos homens com o mesmo nível de ensino em todos os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE): “O fosso salarial está presente em todas as áreas de estudo”, acrescenta o relatório citando um estudo da OCDE.

Olhando apenas para os países da União Europeia, em 2020 as mulheres ganhavam em média menos 13% do que os homens, sendo que em Portugal a diferença baixava para menos 11,4%, concluiu o relatório agora divulgado.