O icónico edifício Cruzeiro no Monte Estoril vai renascer como Academia das Artes

Depois de anos abandonado, o edifício Cruzeiro ganha uma segunda vida ao servir de casa para uma orquestra e três escolas de música, dança e teatro.

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Renovação do edifício Cruzeiro preservou a fachada original CM Cascais

O icónico edifício Cruzeiro, no Estoril, tem uma nova vida. Aquele que foi o primeiro centro comercial de Portugal é inaugurado este sábado como uma Academia de Artes, um espaço que vai servir de pilar para o projecto da Vila das Artes, um pólo de artes performativas em Cascais.

Mais de 70 anos depois de ter aberto portas pela primeira vez, o Cruzeiro é agora transformado num pólo cultural dedicado às artes performativas. Vai acolher três escolas – Escola Profissional de Teatro de Cascais, o Conservatório de Música e a Companhia de Dança Paulo Ribeiro - e a Orquestra de Câmara Cascais e Oeiras.

As obras de recuperação conseguiram preservar a fachada original, desenhada em 1947 pelo arquitecto Filipe Nobre de Figueiredo. Mas o interior dá o salto até ao século XXI, com uma remodelação completa que dá ao edifício diferentes espaços dedicados à área educativa e cultural. Conta 18 salas – dez para a escola de teatro e outras oito destinadas ao Conservatório –, dois grandes estúdios para abrigar a orquestra e a escola de dança e ainda uma sala de espectáculos com capacidade para mais de 300 pessoas.

O renovado edifício Cruzeiro Ana Guerreiro
A fachada original do edifício Cruzeiro foi preservada Ana Guerreiro
O interior do edifício foi completamente renovado Ana Guerreiro
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O renovado edifício Cruzeiro Ana Guerreiro

O projecto é uma aposta “forte” da Câmara de Cascais no “desenvolvimento cultural do concelho”, diz ao PÚBLICO o presidente, Carlos Carreiras. É um investimento que o autarca refere ser sustentável, até porque a cultura “é uma área que sustenta o turismo, uma actividade importante no concelho”, e é “coerente” com os projectos recentes de recuperação de património devoluto.

O edifício Cruzeiro, no Monte Estoril, foi concluído em 1947 e terá albergado o primeiro centro comercial do país, inaugurado em 1951. Uma referência da arquitectura modernista, chegou a ser o lugar de 40 estabelecimentos comerciais, cinema, rinque de patinagem, pistas de dança e até salões de jogos e de fado.

A degradação que sofreu ao longo dos anos e os problemas estruturais (as caves ficavam sistematicamente inundadas devido à proximidade de um ribeiro) acabaram por levar o Cruzeiro a ficar anos ao abandono. E esteve mesmo em risco de ser demolido, com intenções de dar lugar a um edifício habitacional.

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Fotografia antiga do edifício Cruzeiro António Passaporte

A ideia não foi em frente depois de o imóvel ter sido comprado ao Fundo de Pensões do BPI pela autarquia de Cascais, em Novembro de 2016, por um valor simbólico de cem mil euros, aquando da recompra do mercado do Monte Estoril, sob a condição de ser recuperado como um “equipamento cultural” ou, caso fosse demolido, dar lugar a um jardim.

Carlos Carreiras recorda que que havia situações “muito complicadas do ponto de vista infra-estrutural”, mas a renovação do imóvel histórico acabou por ser possível, e nasce agora a Academia das Artes.

A partir do Cruzeiro, a autarquia pretende criar naquela zona o conceito da Vila das Artes, onde já se encontram outros equipamentos culturais “dedicados às artes performativas” e aos quais se devem juntar mais. que irá “reunir um conjunto de equipamentos culturais dedicados às artes performativas”.

A ideia parte da “experiência positiva” que tem sido a criação do Bairro dos Museus, no centro de Cascais, esse direccionado para as artes plásticas.

“Apostamos na formação dos nossos jovens, mas também na formação de novos públicos, que passam a ter uma oferta diversificada – e que, por sua vez, fomentam o próprio turismo”, explica Carlos Carreiras. “É aproveitar as energias renováveis, e não há energia mais renovável que a criatividade e a promoção de serviços culturais. Até agora, tem sido uma aposta vencedora.”

A Câmara de Cascais refere ainda que o edifício Cruzeiro, renovado pelo arquitecto Miguel Arruda, vai também ter uma “forte ligação” ao Teatro Experimental de Cascais, que poderá usufruir de “espaços tecnicamente adequados e modernos”.

A Academia das Artes vai ainda ter uma biblioteca na torre que distingue o edifício ao longe. Será “totalmente dedicada às artes performativas”, especializada em cinema, a partir de uma colecção doada por José de Matos-Cruz.

A festa de inauguração está marcada para este sábado, às 15h, com actuações de estudantes e artistas das escolas e da orquestra, assim como outros músicos e dançarinos não envolvidos nas entidades da Academia das Artes. A partir das 17h30, está marcada uma cerimónia formal que contará com a presença do Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, e da secretária de Estado da Cultura, Isabel Cordeiro.

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