Frente ao Paços, Guedes mostrou ao Benfica que não perdeu o toque

O jogador português ganhou a falta do primeiro golo, inventou a jogada do segundo e criou mais uma mão-cheia de lances no triunfo do líder do campeonato.

Foto
Gonçalo Guedes em acção em Paços de Ferreira Reuters/PEDRO NUNES

A carreira de Gonçalo Guedes tem tido altos e baixos – ou, se quisermos, tem tido baixos quando se presta ao alto (PSG e Liga inglesa). Mas o avançado não perdeu o toque. Neste passo atrás que é o regresso à Liga portuguesa já mostra que pode ser um factor para decidir o que vai acontecer ao Benfica no que resta da temporada.

Nesta quinta-feira, o português, que já tinha marcado na estreia, encaminhou os “encarnados” para um triunfo (0-2) em Paços de Ferreira, em jogo antecipado da jornada 20 – e também isto tem especial relevância, porque o Benfica tratou já de “despachar” com sucesso um jogo que, na data inicial, estaria “entalado” entre um jogo de Taça e um de Champions.

Já o Paços, de César Peixoto, mostrou por que motivo ainda se acredita que pode sair do último lugar, mas também mostrou por que motivo ainda lá está. É uma equipa com capacidade de criar lances ofensivos, mas incapaz de resistir aos engodos criados pelos adversários – e é de engodos e enganos que se faz boa parte do trabalho nos desportos colectivos.

Repetição da mesma ideia

O Benfica levou a este jogo um plano claro, seja por observação do Paços ou apenas por considerar que era a melhor forma de explorar os seus jogadores – ou até ambas as coisas.

A equipa “encarnada” aplicou insistentemente a mesma receita, que era relativamente simples de ver, mas difícil de contrariar. João Mário, o ala direito, baixava em apoio e arrastava invariavelmente Antunes, lateral do Paços. E também Guedes e Ramos faziam o mesmo movimento de apoio frontal no centro, arrastando os dois centrais.

A equipa do Paços usava referências individuais neste tipo de jogada e isso seduzia sempre os defensores a irem atrás dos benfiquistas nestes movimentos de aproximação.

Criado o movimento de atracção, o Benfica tinha duas hipóteses: lançava Bah pelo espaço deixado livre por Antunes, que tinha ido atrás de João Mário, ou então explorava o lado oposto, descoberto pelo balanceamento do Paços ao seu lado esquerdo, a zona da bola.

Foi assim aos 4’, quando João Mário arrastou Antunes e Bah cruzou para remate de Enzo. Foi assim aos 10’, quando João Mário, Ramos e Guedes baixaram em apoio frontal, o ponta-de-lança tocou para deixar Enzo de frente para o jogo e o argentino soltou o lado esquerdo, com Guedes a pedir no corredor. Houve movimento interior, passe vertical a isolar Aursnes e João Mário a marcar na recarga ao remate do norueguês.

Foi também assim aos 33’, quando João Mário baixou em apoio e a bola rodou rapidamente ao lado oposto. E a transição, com a linha de pressão do Paços sempre batida pelas referências individuais, acabou com remate de Guedes para fora.

Guedes como Rafa

Antes de tudo isto, já Grimaldo tinha marcado aos 6’, num livre directo ganho por Guedes, pelo que neste momento já falávamos de um 2-0. E falávamos de Guedes.

O reforço do Benfica surgiu na posição de Rafa, como segundo avançado, e esteve muito activo – deu apoios frontais pelo centro (ganhou até o livre do 0-1), pediu a bola à esquerda (criou o 0-2) e tentou desequilibrar à direita em dois lances que não deram finalização.

E teve também um lance “à Rafa”, quando pediu a bola na zona do meio-campo e acelerou em condução. Tal como crê Roger Schmidt, é na posição de Rafa que Guedes mais pode fazer a diferença, até por ter liberdade para surgir nas alas, se assim o jogo pedir.

Do lado contrário o Paços estava num jogo estranho. As tais referências individuais faziam com que fosse batido facilmente, mas no ataque até teve lances interessantes, sobretudo em transições pelo lado esquerdo. Teve dois lances mal finalizados aos 18’ e 22’ e um remate de Thomas ao poste, aos 40’.

Na segunda parte viu-se um jogo menos sumarento nas áreas, até porque o Benfica pareceu claramente apostado em controlar o jogo com bola, expondo-se bastante menos do que tinha feito até ao intervalo.

E a “fotografia” do jogo era relativamente fácil de tirar. O Benfica tentava “adormecer” o jogo e o Paços, precisando de dois golos, foi acreditando cada vez menos, mesmo com outra bola ao poste de Thomas, aos 73’, e de Fábio Gomes, aos 90+4'.

A partida foi caminhando até ao final lenta, “morna” e parca em motivos de interesse. E o Paços fica a lamentar a falta de acerto na finalização.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários