Trinta segundos que abalaram a comunidade científica da Terra
Somos um grupo de cientistas seniores, médios e principiantes que trabalham na Ciência do Sistema Terra e especificamente sobre as causas e impactos das alterações climáticas. Alguns de nós temos sido autores de relatórios do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas, IPCC. Como cientistas, fazemos observações detalhadas e concebemos cuidadosamente experiências e modelos para compreender as causas, processos e implicações das alterações climáticas.
Mantemo-nos fiéis aos factos e fazemos o nosso melhor para informar os decisores políticos e concidadãos, e para formar estudantes com métodos científicos rigorosos.
É importante notar que os cientistas climáticos são cidadãos e humanos também. Como cidadãos, nós temos as nossas próprias opiniões sobre o mundo e participamos no debate público da forma que achamos mais adequada. Como seres humanos, temos o direito inalienável de expressar as nossas opiniões de uma forma pacífica.
O facto de as emissões antropogénicas de gases com efeito de estufa estarem a causar o aquecimento global é algo inequívoco há já várias décadas. Que estamos a pôr em perigo o futuro dos sistemas ecológicos e das sociedades também é inequívoco.
Para citar o IPCC: “As alterações climáticas são uma ameaça ao bem-estar humano e à saúde planetária. Qualquer atraso adicional na acção global de antecipação concertada sobre adaptação e mitigação vai contribuir para o falhanço de uma breve janela de oportunidade, que está a fechar rapidamente, para assegurar um futuro habitável e sustentável para todos.”
Precisamos de nos envolver activamente como cidadãos-cientistas que trabalham para a mitigação dos gases com efeito de estufa e a rápida transição para um futuro com baixas emissões de carbono.
Estamos, portanto, chocados com a recente retaliação contra os colegas que se atreveram a exercer os seus direitos civis e humanos. A dra. Rose Abramoff, juntamente com o seu colega dr. Peter Kalmus, exibiu um cartaz que dizia “Fora do laboratório e para as ruas” antes de um plenário de arte e ciências falar sobre alterações climáticas na Reunião de Outono da União Geofísica Americana (AGU).
A sua acção durou menos de 30 segundos. A resposta que lhes foi dada foi de longe desproporcionada: a AGU retirou imediatamente os seus dados científicos e contribuições do programa do encontro, apagando assim o seu trabalho do discurso científico, e depois lançou um inquérito.
Consequentemente, a dra. Abramoff — uma excelente cientista de início de carreira — foi despedida do seu trabalho num grande instituto governamental. Quer se concorde ou não com a forma com que a dra. Abramoff e o dr. Kalmus decidiram protestar, ou mesmo se violaram o decoro do estabelecimento, não podemos ficar calados perante as acções da AGU contra eles e a retaliação que se seguiu.
Argumentamos que o custo do silêncio face a um tratamento tão injusto e desproporcionado, para a comunidade científica e do planeta, seria demasiado elevado. As respostas pesadas e injustas a um curto desdobramento de uma bandeira não só ameaça as carreiras de dois cientistas, como também desencoraja os investigadores — e especialmente os cientistas de início de carreira — de se envolverem com os seus colegas e a sociedade e de falarem sobre a necessidade urgente de acção climática.
Estamos profundamente preocupados com uma decisão que diz aos cientistas que eles arriscam as suas carreiras se se atreverem a falar ou a empenhar-se em advocacia que não seja formalmente aprovada. Os empregadores não devem punir os investigadores científicos por participarem em acções climáticas não violentas. Academia e organizações associativas como a AGU devem ser espaços seguros para a liberdade de expressão.
Estamos ao lado dos nossos colegas cientistas climáticos que expressam a frustração com a falta de acção climática significativa no seio da comunidade científica e do público, que chame a atenção para a urgência do momento de uma forma não violenta. Estamos ao lado de Rose e Peter.
Gostaríamos de chamar ainda a vossa atenção para uma carta aberta dirigida especificamente à AGU [em inglês].
Consulte aqui os mais de 1500 signatários desta carta aberta.
Promotores da carta:
- Ana Bastos, líder de Grupo de Investigação, Max Planck Institute for Biogeochemistry Alemanha
Co-lidera a iniciativa RECCAP2, autora participante IPCC SRCCL;
membro da Academia Nacional de Ciência Francesa, autor principal do relatório AR5 do IPCC;
autora principal e coordenadora do relatório do IPCC, SRCCL
autor principal do Relatório AR6 do IPCC
autora principal e coordenadora do relatório IPBES CLA Global Assessment
autora principal do relatório IPBES Lead Author Nexus Report
premiada DFG Gottfried Wilhelm Leibniz Prize 2022;
líder de investigação do CSIRO, autor principal e coordenador do relatório AR6 WGI do IPCC, membro do IPCC premiado com o Prémio Nobel da Paz;
membro da Royal Society, autor principal do relatório AR5 do IPCC;
participante em vários projectos internacionais;
líder de vários projectos internacionais;
membro da National Academy of Sciences, premiado com a Rossby Medal da AMS e a Revelle Medal da AGU;
co-presidente do IPCC AR6 WGI;
professor distinto e regente da cátedra Rudy Grah;
membro da AGU;
membro da AGU;
autor principal do relatório AR6 do IPCC.