Montenegro ameaça recorrer a Marcelo para forçar eleições antecipadas se Costa não “mostrar o que vale”

O presidente do PSD garantiu que recorrerá ao Presidente da República para interromper a legislatura caso António Costa não dê provas de ter condições para continuar a governar.

Foto
Luís Montenegro falou aos militantes do PSD e aos jornalistas à entrada para o Conselho Nacional do partido LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

Fazendo um balanço do primeiro ano deste Governo, que se assinala a 30 de Março, o presidente do PSD, Luís Montenegro, considerou esta quarta-feira que "para já" o cenário político "não exige eleições", mas desafiou António Costa a "mostrar o que vale" sob pena de o PSD usar "mecanismos para atalhar caminho".

Assegurando estar "preparado para ser primeiro-ministro", o líder dos sociais-democratas, que falava aos militantes à entrada para o conselho nacional do partido, em Lisboa, dirigiu-se directamente ao primeiro-ministro. "Dr. António Costa esta é a sua hora", afirmou. "Esta é a hora de mostrar o que vale" e de "dizer e demonstrar que ainda é merecedor e que ainda está a tempo de recomeçar a governação que prometeu nas últimas eleições".

Antes, o presidente do PSD considerou que este último ano de governação socialista "tem uma marca": "A marca do desnorte, da incapacidade, da falta de liderança e do desmerecimento da confiança do povo português”, declarou, acusando o Governo de não ter implementado qualquer “transformação” ou “reforma”, mas antes, de ter estado envolvido em "casos em cima de casos".

Referindo-se ao “conjunto inesgotável de confusões dentro do Governo”, censurou particularmente o ministro das Finanças, Fernando Medina, por afirmar que não tinha conhecimento da indemnização de 500 mil euros pagos à ex-secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis, quando saiu da administração da TAP. “O ministro das Finanças diminui-se politicamente porque não é capaz de dar resposta”, disse, acrescentando que se não sabia “é de uma ligeireza total”.

Passando a Pedro Nuno Santos que, já depois de se demitir no seguimento do caso Alexandra Reis veio agora tornar público que foi informado sobre essa indemnização à altura, e que a autorizou, considerou que o comunicado do ex-ministro das Infra-estruturas "agrava ainda mais a debilidade do ministro das Finanças”, caso este não tenha efectivamente sido informado, e coloca a nu a falta de articulação no executivo que, diz, está “completamente perdido”.

Quanto ao actual ministro dos Negócios Estrangeiros e ex-ministro da Defesa, sublinhou que “os indícios de que há qualquer coisa mal explicada" no caso da derrapagem no custo das obras do Hospital Militar de Belém "já são mais que muitos” e que João Gomes Cravinho é mais um ministro “numa área-chave a afectar a credibilidade do Governo”.

Em relação ao questionário de escrutínio prévio dos governantes salientou que deve ser aplicado ao primeiro-ministro e aos membros do Governo, como defendido por Marcelo Rebelo de Sousa e ao contrário do que advogou António Costa. Montenegro acusou o primeiro-ministro de "andar a brincar" com a sua "credibilidade" e "autoridade" e pediu a Costa para dar a conhecer a primeira versão deste questionário (uma "solução de recurso", como lhe chamou) que apresentou ao Presidente da República.

Montenegro atirou-se, também, ao empobrecimento do país que, diz, "está cada vez mais na cauda da Europa” e à resistência do Governo em baixar os impostos das pessoas e das empresas perante a subida da inflação. De parte, não ficaram críticas à "resposta insuficiente dos serviços de Saúde" e aos problemas na Educação, desde as condições laborais dos docentes à falta de recuperação de aprendizagens dos alunos devido à pandemia de covid-19. Uma realidade que, frisou, foi "secundarizada e negligenciada" pelo Governo do PS.

Perante este cenário, o líder do PSD defendeu que não seria "responsável" iniciar um terceiro processo eleitoral em três anos, mas garantiu que "no dia em que concluirmos que o Governo não tem condições para prosseguir", o PSD recorrerá ao Presidente para reclamar a "interrupção da legislatura". "Se esse dia chegar assumiremos a responsabilidade", afirmou, assegurando que o "PSD está sempre preparado" para ser a alternativa.

O presidente do PSD criticou ainda o programa “Governo mais próximo” que arrancou esta quarta-feira, apelidando-o de “campanha de propaganda governamental” e considerando que se trata de uma forma de fazer “oposição à oposição”. Censurou também o executivo por ter demorado sete anos “a concluir que era preciso visitar os concelhos e distritos de Portugal”, quando o PSD lançou o seu programa “Sentir Portugal”, sob a nova liderança de Montenegro, no ano passado.

Sugerir correcção
Ler 16 comentários