A Rússia ainda tem milhares de tanques, mas quantos estão realmente em condições?
Desde o início da guerra, Moscovo terá perdido pelos menos metade dos carros de combate que tinha ao serviço. Para compensar a falta de tanques, os velhos T-62 saíram da reforma.
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Com a chegada anunciada dos carros de combate alemães Leopard 2 e dos norte-americanos M1 Abrams à Ucrânia, o impacto que poderão vir a ter no terreno depende não só da quantidade que os aliados fornecerão, de facto, ao exército ucraniano, mas também do número e da qualidade dos tanques que a Rússia tem disponíveis para lançar na guerra.
Nos agradecimentos aos aliados pelo envio dos carros de combate, o Governo de Kiev insistiu na ideia de quantos mais, melhor - “Nós precisamos de muitos Leopard”, disse o chefe de gabinete de Zelensky, Andrij Yermak – mas poderão algumas centenas de unidades fazer a diferença numa batalha de tanques com a Rússia?
Estando teoricamente fora de questão um duelo semelhante à batalha de Kursk, na II Guerra Mundial, onde, no Verão de 1943, a Alemanha nazi e a União Soviética utilizaram mais de seis mil carros de combate (2700 do lado alemão), resta saber quantos tanques terá a Rússia à sua disposição para lançar na Ucrânia numa potencial ofensiva na Primavera.
Quando iniciou a invasão da Ucrânia, a 24 de Fevereiro do ano passado, Moscovo teria, segundo a maior parte das estimativas, mais de três mil carros de combate disponíveis e mais alguns milhares de reserva, contra cerca de 900 do lado ucraniano, na sua grande maioria veículos de fabrico soviético já com algumas dezenas de anos de serviço, como o T-72.
Este mesmo carro de combate fazia também parte da frota russa, tal como o T-90, que foi lançado ao serviço em 1992, pouco depois do desmantelamento da União Soviética, ou o mais antigo T-80.
Até ao final do ano passado, o exército russo terá perdido uma quantidade considerável de carros de combate, com os números a variar entre os 2800 reclamados pela Ucrânia e os cerca de 1600 contabilizados pelo site independente Oryx, que rastreia o equipamento perdido pelos dois lados do conflito. Metade deles – destruídos, inutilizados ou capturados – terá sido perdida só nos primeiros três meses de guerra.
Tomando como base os valores compilados pelo Oryx, a Rússia teria perdido, até ao final do ano passado, o equivalente a 14 brigadas blindadas completas ou 42 grupos tácticos de batalhão (BTG), cerca de metade dos carros de combate em condições de uso que possuía no início da guerra.
Para além do milhar e meio de tanques que terá ainda disponíveis, sobram ainda vários milhares que Moscovo terá guardados e que não estão em condições de serem utilizados a curto prazo. Segundo a base de dados Military Balance, publicada pelo International Institute for Strategic Studies, em 2021 a Rússia tinha pelo menos 10.200 carros de combate armazenados, incluindo 3000 T-80, 200 T-90 e um número não especificado de T-72.
As perdas sofridas ao longo do ano levaram mesmo a Rússia a optar por uma solução “vintage”: utilizar na Ucrânia os velhos T-62, carros de combate que deixaram de ser fabricados em 1975 e que são vulneráveis às modernas armas antitanque ou aos drones. Em Maio, o comando militar russo ordenou que os T-62 em condições de utilização fossem tirados dos armazéns, com o Ministério da Defesa britânico a sentenciar: “A sua presença no campo de batalha evidencia a escassez de equipamentos modernos e prontos para o combate na Rússia.”