Encontrados documentos da Casa Branca na residência de Mike Pence
Anterior vice-presidente dos EUA diz que alertou de imediato o Departamento de Justiça e está a colaborar com as investigações.
Pelo menos uma dúzia de documentos confidenciais da Casa Branca foram encontrados na residência do anterior vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence. Segundo os seus advogados, Pence não sabia da existência desses documentos, e o Departamento de Justiça foi informado da descoberta no mesmo dia.
A notícia, avançada pela CNN, foi recebida com surpresa e preocupação no Congresso, onde se teme que as falhas de segurança no manuseamento de documentos secretos por titulares dos mais altos cargos do país — de forma propositada ou involuntária — levem a um relaxamento das regras nas várias estruturas do governo norte-americano.
"Temos de investigar a fundo o que se passa", disse o senador Lindsey Graham, do Partido Republicano. "Não acredito, nem por um minuto, que Mike Pence tenha tentado pôr em causa a segurança nacional de forma intencional. Mas é óbvio que temos aqui um problema."
Não são conhecidos pormenores sobre os documentos encontrados na casa de Pence, no Indiana, nem se sabe se o procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, irá abrir uma investigação formal, à semelhança do que aconteceu nos casos de Donald Trump e de Joe Biden.
Em Dezembro, Garland nomeou um antigo procurador do Tribunal Penal Internacional, Jack Smith, para investigar a descoberta de 11 mil documentos da Casa Branca (incluindo mais de 300 classificados como secretos ou ultra-secretos) na mansão de Trump na Florida; e, há duas semanas, destacou o representante do Departamento de Justiça no estado do Maryland, Robert K. Hur — um republicano nomeado por Trump em 2018 — para liderar a investigação à descoberta de duas dezenas de documentos confidenciais num antigo escritório de Biden em Washington e na casa do Presidente norte-americano, no estado do Delaware.
"Todos iguais"
A descoberta de documentos confidenciais na residência de Pence é encarada como um desenvolvimento positivo nos círculos mais próximos de Trump e de Biden.
Apesar das diferenças significativas que existem entre o caso de Trump e os casos de Biden e de Pence, é possível que a maioria do eleitorado venha a pôr em segundo plano os pormenores que os separam, e que acabe por valorizar a ideia forte que parece uni-los: a de que todos os políticos têm a mesma falta de cuidado no tratamento de documentos confidenciais.
"Quantos mais documentos são descobertos, e quantos mais actuais e antigos altos responsáveis do poder executivo estão envolvidos, mais se transmite a ideia de que estas descobertas não são importantes, ou então que todos os envolvidos têm o mesmo grau de responsabilidade", disse o jornalista da CNN Stephen Collinson, especialista em política dos EUA, numa análise publicada no site do canal.
No caso de Pence, os documentos foram encontrados durante uma investigação interna realizada na semana passada, na sequência das notícias sobre os documentos encontrados num antigo escritório e na residência de Biden.
Em várias entrevistas, nos últimos meses, o anterior vice-presidente dos EUA negou sempre ter na sua posse documentos confidenciais, uma convicção que se desfez após uma vistoria feita à sua casa no Indiana.
Contactados pelos media norte-americanos, responsáveis nos gabinetes de Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama disseram que nenhum dos ex-Presidente dos EUA tem na sua posse documentos confidenciais da Casa Branca.
Casos diferentes
No meio de artigos sem qualquer tipo de classificação, os advogados de Pence dizem ter encontrado "uma dúzia" de documentos confidenciais em quatro caixas seladas, que foram cedidas de imediato aos Arquivos Nacionais. Ao mesmo tempo, Pence diz que informou o Departamento de Justiça e que se disponibilizou para colaborar com uma eventual investigação da Câmara dos Representantes.
Em traços gerais, os casos de Biden e de Pence são semelhantes: ambos dizem que não sabiam ter na sua posse documentos confidenciais; ambos informaram os Arquivos Nacionais e o Departamento de Justiça de forma voluntária; e nenhum deles alega ter desclassificado qualquer documento. Além disso, o número de documentos confidenciais na posse Biden e de Pence é pouco significativo em comparação com o caso de Trump: duas dezenas no caso de Biden, uma dúzia no caso de Pence.
O anterior Presidente dos EUA resistiu a insistentes pedidos, ao longo de 2021, para a entrega de milhares de documentos da Casa Branca que estavam na sua mansão em Mar-a-Lago. Depois disso, entre Janeiro e Agosto de 2022, os agentes do FBI recolheram mais de 11 mil documentos da Casa Branca, incluindo 327 documentos classificados, na sequência de uma intimação de um grande júri e de um mandado de busca.