Marcelo D2 em Portugal: “O samba vai ajudar à reconstrução do Brasil”

Rapper brasileiro abraçou o samba num momento de mudança e vai mostrar isso mesmo em Portugal, desta quinta-feira a sábado, no Hard Club, no Casino Estoril e em Ovar.

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Marcelo D2 Wilmore Oliveira

São espectáculos únicos, anunciados como “bailes de pré-Carnaval”, mas o que traz Marcelo D2 de novo a Portugal é bem mais do que isso: é uma nova atitude de quem combateu o bolsonarismo com as armas do rap e agora quis abraçar o samba como forma de integrar o processo de mudança em curso no Brasil.

Marcelo D2, nascido Marcelo Maldonado Gomes Peixoto, no Rio de Janeiro, em 1967, acaba de lançar um single com videoclip, Povo de fé, tem um álbum pronto, Iboru, que irá sair em Março e agora apresenta-se ao vivo em Portugal com o colectivo Bamba Social, esta quinta-feira no Hard Club, no Porto (21h30), sexta-feira no Casino Estoril (22h) e sábado em Ovar, no mercado municipal, nos festejos que ali assinalam a abertura do Carnaval.

No comando, o samba, por razões que Marcelo explica assim ao PÚBLICO: “De há um tempo para cá, eu mudei um pouco o meu repertório. Esses concertos em Portugal partem da vontade de partilhar com o povo português essa mudança, esse meu passo largo, definitivo, para o samba.”

É um passo que vai ser dado juntamente com um colectivo com o qual Marcelo D2 tem vindo a trabalhar desde há alguns anos, a Orquestra Bamba Social, fundada no Porto, e quem tem entre os seus integrantes (mais de uma dezena) músicos como Luca Argel, Pedro Pinheiro, Tiago Nacarato ou Denise Machado. Inclusive, gravaram juntos o tema Cadê Cascais?, parte do álbum Na Fé, de 2020. “É um colectivo de muita gente criativa”, diz Marcelo. “Esse show é Marcelo D2 e o Bamba, mas, mais do que isso, eu quero muito fazer parte desse colectivo, mais do que ser uma peça fora. Tenho falado muito com eles, dessas ligações, no nosso grupo de WhatsApp, e quero ser mais um ali dentro. Pelo que a gente tem falado, acho que vai dar muito certo.”

Porém, meses antes de abraçar o samba, Marcelo D2 ainda batalhava com as armas da música num momento conturbado da vida do Brasil. Isso mesmo pode ser confirmado no tema Distopia, dos Planet Hemp, lançado em Setembro de 2022, em antecipação do álbum Jardineiros, que viria a ser publicado em Outubro.

Banda brasileira de rap rock fundada por Marcelo D2 e Skunk em 1993, e à qual Marcelo ainda pertence, os Planet Hemp apontavam a sua fúria à “fé cega e radicalismo”, dizendo a dada altura da canção Distopia: “Os que detêm o poder precisam ter medo medo do povo/ Eles mentem mentem mentem pra te deixar vulnerável/ Qualquer um que ‘acredita’ cegamente é manipulável.” Ou: “A onda dos caras é fazer com que a geral acredite que só existe um único e exclusivo modo de vida neste mundo: o modelo controlado por eles.”

“O rap sempre foi uma música de confronto”, diz agora Marcelo D2. “E esse era o momento de enterrar o fascismo no Brasil de uma vez por todas. Lutei com todas as armas, mas nesse momento de mudança que o país está vivendo eu queria mudar um pouco o discurso. A maneira com o samba resiste a tudo isso é muito bonita. A vontade de cantar samba, há muito tempo vem comigo, está na hora de aprofundar mais isso. Eu quero fazer parte dessa reconstrução do Brasil e o samba vai ajudar muito nisso.” Opositor declarado de Bolsonaro e do bolsonarismo, Marcelo D2 acredita que a mudança é possível: “Lula não tem a chave do paraíso, mas tem a saída do inferno.”

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