Pressão turca abre brecha na candidatura comum de Finlândia e Suécia à NATO
Ministro dos Negócios Estrangeiros finlandês admite a necessidade de um intervalo de algumas semanas nas negociações, depois de Erdogan pôr em causa o apoio à entrada dos suecos.
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A pressão da Turquia sobre a Suécia poderá pôr em causa a adesão simultânea de suecos e finlandeses à NATO, com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Finlândia, Pekka Haavisto, a reconhecer esta terça-feira que os dois países nórdicos poderão mesmo ter de repensar, se necessário, a estratégia de avançar em conjunto.
“Temos de estar preparados para reavaliar a situação”, afirmou Haavisto ao canal de televisão público finlandês Yle, um dia depois de o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ter dito que a Suécia não deve esperar o apoio de Ancara após uma série de protestos em Estocolmo, onde foram queimadas efígies de Erdogan e uma cópia do Alcorão e que levou mesmo ao cancelamento de uma visita oficial do ministro da Defesa sueco à Turquia.
Em entrevista posterior à Reuters, o chefe da diplomacia finlandesa suavizou a declaração inicial e disse que será necessário um intervalo de algumas semanas nas negociações da Finlândia e da Suécia com a Turquia, insistindo que os dois países devem continuar a tentar avançar em conjunto.
“É preciso um intervalo antes de voltarmos às negociações trilaterais e avaliar onde estamos, quando a poeira baixar”, disse Haavisto.
Finlândia e Suécia apresentaram em Maio do ano passado as suas candidaturas à adesão à Aliança Atlântica, depois da invasão russa da Ucrânia, e precisam da aprovação formal dos 30 Estados-membros da NATO para completar o processo.
Haavisto considera improvável que Ancara tome uma decisão sobre os pedidos de Finlândia e Suécia antes das eleições turcas, marcadas para 14 de Maio, acreditando que os dois países podem ver a sua adesão aprovada por altura da cimeira da NATO agendada para 11 e 12 de Julho em Vílnius, capital da Lituânia.
“Do ponto de vista da segurança de ambos os países, a entrada na NATO é claramente a primeira opção”, acrescentou o ministro finlandês, confirmando que manteve contactos com o seu homólogo sueco, Tobias Billström, e com o secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg.
Após as palavras iniciais de Haavisto, Billström disse que ia pedir esclarecimentos às autoridades finlandesas, de acordo com a SVT, a televisão pública sueca. “A Suécia respeita o acordo entre Suécia, Finlândia e Turquia sobre a nossa integração na NATO”, disse o responsável pela diplomacia sueca, aludindo ao acordo assinado à margem da cimeira da organização que se realizou em Madrid em Junho do ano passado.
Por sua vez, o ministro da Defesa finlandês, Mikko Savola, defendeu, no Twitter, que é preciso “manter a cabeça fria”, recordando que os dois países vizinhos apresentaram o seu pedido de adesão à Aliança Atlântica “ao mesmo tempo”, em Maio de 2022.
A adesão simultânea de finlandeses e suecos continua também a ser o objectivo declarado da NATO, mesmo que ainda falte a luz verde da Hungria e da Turquia. “A Finlândia e a Suécia pediram para aderir à NATO ao mesmo tempo. Os 30 aliados convidaram os dois países a ingressar em Junho passado e 28 já ratificaram os protocolos de adesão”, disse Stoltenberg esta terça-feira.
Nesse sentido, o secretário-geral da Aliança Atlântica sublinhou que se trata do processo de adesão mais rápido da história recente da organização e sublinhou que a entrada das duas nações escandinavas é uma “prioridade”.
“Participam ambos nas reuniões da NATO, sentam-se à mesa dos aliados e estão integrados em grupos de consulta e actividades militares”, disse o antigo primeiro-ministro norueguês. “Aguardo com expectativa a sua plena adesão à NATO, que é do interesse de todos”, concluiu Stoltenberg, apesar da relutância demonstrada pela Turquia.
O Governo de Erdogan acusa a Suécia, em particular, de dar abrigo a extremistas, nomeadamente a membros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), ilegalizado na Turquia. Um dos pontos de discórdia prende-se com a extradição de pessoas que Ancara considera terroristas.
No final do ano passado, a Turquia expressou o seu desapontamento com a decisão do Supremo Tribunal sueco de negar o pedido de extradição do jornalista Bülent Kenes, alegadamente ligado ao movimento de Fetullah Gülen, acusado pelo Governo turco de estar por trás da tentativa de golpe de Estado de 2016.