Nova regra da Fórmula 1 criticada por tentar “silenciar” pilotos como Hamilton
Bahrain Institute for Rights and Democracy acusa FIA de falsa neutralidade e de acolher regimes ditatoriais.
No início do ano, o piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton, sete vezes campeão do mundo, repudiou a nova directiva da Federação Internacional do Automóvel (FIA) que prevê penalizações para os pilotos que assumam comentários ou posições políticas, religiosas ou ideológicas ostentando símbolos ou peças de vestuário durante os momentos que antecedem a competição, bem como na cerimónia de pódio.
Hamilton afirmou que preferia não correr mais a ter de submeter-se a um regulamento que imponha limites à liberdade de expressão. Agora, o Bahrain Institute for Rights and Democracy (Bird), através de Sayed Ahmed Alwadaei, membro daquele grupo de direitos humanos, acusa a FIA de “suprimir a liberdade de expressão dos pilotos de Fórmula 1 com a regra introduzida.
O Bird questiona o posicionamento e grau de comprometimento da FIA em relação a questões como os direitos humanos e o racismo, já que a nova regra pretende impedir que os pilotos façam ouvir a sua voz, o que Alwadaei teme ser uma reacção da FIA às posições reiteradamente assumidas por Lewis Hamilton.
Political prisoner in #Bahrain, Ali AlHajee, urges @LewisHamilton not to adhere to new repressive @fia rules on political statements, whilst @BirdBahrain_ expresses concerns in a letter to @Ben_Sulayem.
— BIRD (@BirdBahrain_) January 24, 2023
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O director da Bird é citado pelo site BBC Sport, que refere uma carta de Alwadaei na qual este tece comentários sobre o alinhamento do regulamento com o código desportivo da FIA, cuja posição é, supostamente, neutra no que diz respeito a questões políticas, religiosas e ideológicas.
Este princípio é questionado pelo representante do Bird, que aponta a exclusão do Grande Prémio da Rússia e o apoio tácito às vítimas da guerra da Ucrânia, numa aparente contradição à regra que a FIA pretende agora implementar.
A FIA pode, a este respeito, alegar o carácter excepcional previsto para violações aos princípios gerais de neutralidade que pretende promover nos respectivos estatutos, e que prevê uma aprovação prévia, por escrito.
Alwadaei acredita que a medida está directamente relacionada com as inquietações e preocupações levantadas por pilotos como Hamilton relativamente aos países escolhidos pela FIA para a realização dos Grandes Prémios de Fórmula 1, mais concretamente de países com “cadastro” em matéria de violação de direitos humanos, com os pilotos a substituírem-se à própria FIA nesse papel.
A carta enviada a Mohammed Ben Sulayem, presidente da FIA, bem como aos detentores dos direitos comerciais da F1 e aos representantes de Lewis Hamilton, denuncia o tratamento dispensado a países como a Arábia Saudita, Bahrein e Emirados Árabes Unidos quando comparado com as medidas aplicadas à Rússia, isto quando o Iémen vive na última década uma catástrofe humanitária.
Alwadaei considera, inclusive, que nenhuma das posições assumidas por Lewis Hamilton se compara em termos de intervenção política ao impacto da exclusão do Grande Prémio da Rússia decidida pela FIA. Posição apoiada pelo Bird, mas que é uma inequívoca manifestação política.
Em declarações à BBC Sport, Alwadaei acrescenta que "quando a FIA e a Fórmula 1 atribuem a organização de Grandes Prémios a alguns dos regimes mais repressivos do mundo, como o Bahrein e a Arábia Saudita, estão a pactuar com a limpeza da imagem de ditaduras”, dizendo-se perturbado pela “adopção de tácticas idênticas às dos parceiros déspotas na tentativa de silenciar denúncias e críticas". E lembrou que pilotos como Lewis Hamilton ergueram a voz quando a FIA falhou na sua responsabilidade de apoiar as vítimas de abusos, apelando à urgente revogação desta regra.
Em resposta às questões levantadas pela carta do Bird e colocadas pela BBC Sport, um porta-voz da FIA disse que a nova regra pretende plasmar um acordo prévio sobre esta matéria e que diz respeito ao uso de artigos de vestuário com afirmações em tom de campanha de teor político e religioso durante a cerimónia de pódio ou antes das corridas, de que o “movimento” “Black Lives Matter” é um exemplo, havendo espaço a comentários generalistas de apoio a causas e direitos humanos.