Os elefantes gostam mais de comer as folhas das árvores que crescem rapidamente, e absorvem menos carbono, e ao fazê-lo dão espaço às árvores de crescimento mais lento, mas cuja madeira é mais densa e se torna um sumidouro das emissões de dióxido de carbono (CO2) que estão por trás das alterações climáticas, conclui um estudo publicado nesta segunda-feira na revista científica norte-americana Proceedings of the the National Academy of Sciences (PNAS).
Nas florestas africanas, há árvores com madeira mais leve, que absorvem menos carbono e crescem rapidamente, erguendo-se acima de outras plantas e árvores para alcançar a luz do Sol. Outras árvores produzem uma madeira mais densa, que absorve mais carbono, e crescem mais lentamente. Não precisam de tanta luz solar, preferem crescer à sombra.
Os elefantes afectam a abundância relativa destes dois tipos de árvores porque se alimentam mais das de crescimento rápido — cujas folhas têm melhor sabor, porque estas plantas investem menos na produção de defesas químicas e estruturais do que as de crescimento lento, defende a equipa no artigo, que tem como primeiro autor Fabio Berzaghi, da Universidade Marítima Mundial, em Malmö, na Suécia.
Espalhar sementes
Outra parte importante da alimentação dos elefantes é a fruta. E estes grandes herbívoros preferem comer os frutos das árvores de madeira mais densa — que costumam ser maiores e têm possivelmente mais açúcares e minerais, diz a equipa. Com esta preferência, dão outra ajuda à proliferação destas árvores que fixam mais carbono, ao dispersarem as sementes dos frutos nas suas fezes.
“Os elefantes das florestas (Loxodonta Cyclotis) são dispersadores de sementes prodigiosos, movimentam mais sementes de mais espécies diferentes do que qualquer outra espécie de animal”, escreve a equipa. Apesar disso, dizem os investigadores, não tinha ainda sido investigada a contribuição desta dispersão para a constituição da estrutura da floresta (estão mais estudados os elefantes da savana).
Os cientistas usaram dados recolhidos no Parque Nacional Nouabalé-Ndoki (República do Congo) e de LuiKotale (perto do Parque Nacional de Salonga National Park, na República Democrática do Congo), bem como outros estudos sobre a dieta dos elefantes feitos na zona tropical de África.
A hipótese dos cientistas é que, ao alimentarem-se das árvores de crescimento mais rápido, os elefantes controlam a sua proliferação. Isto, combinado com a dispersão de sementes dos frutos das árvores de madeira mais densa, acaba por ter efeitos profundos no sequestro de carbono. “Tal confirmaria o papel no ecossistema dos elefantes como essencial para promover o crescimento de florestas sequestradoras de carbono, criando melhores condições para as árvores grandes e de madeira mais densa”, escrevem na PNAS.
Influenciam a quantidade de CO2 na atmosfera
“Os elefantes comem muitas folhas de muitas árvores e fazem-lhes muitos danos quando se alimentam. Deixam as árvores sem folhas, quebram ramos e podem mesmo arrancar árvores pequenas, e os nossos dados mostram que isto acontece mais com as árvores de crescimento rápido. Se à sua volta existirem muitas árvores de madeira mais densa, que absorvem mais dióxido de carbono, é menos um concorrente, eliminado pelos elefantes”, sintetiza Stephen Blake, da Universidade de Saint Louis (Missouri, EUA), coordenador da equipa, citado num comunicado de imprensa. As árvores de crescimento mais lento ficam com mais luz, espaço e nutrientes do solo para se desenvolverem.
“Os elefantes são os jardineiros da floresta”, comentou Stephen Blake. “Plantam árvores com madeira de alta densidade que absorvem mais carbono e livram-se das ‘ervas daninhas’, que são as árvores de baixa densidade de carbono. Fazem imenso trabalho para manter a biodiversidade da floresta” e influenciam a quantidade na atmosfera de dióxido de carbono, um gás com efeito de estufa que contribui para o aquecimento global.
Por exemplo: se perdêssemos os elefantes e o trabalho que fazem de dispersão das sementes das árvores de crescimento lento, haveria uma perda entre 6% e 9% da capacidade de sequestro de carbono, calculam os cientistas.
“Os elefantes têm múltiplos benefícios para a sociedade. Promovem a diversidade da floresta de muitas maneiras”, sublinha o cientista. E, no entanto, continuamos a caçá-los. “Os elefantes da floresta africanos correm um grande risco de extinção. O argumento de que toda a gente gosta de elefantes não conseguiu reunir o apoio suficiente para travar a caça”, constata Stephen Blake.
Menos 80% de elefantes nos últimos 30 anos
Sublinhar que a perda dos elefantes significaria perda da biodiversidade da floresta também não funcionou: os números de elefantes continuam a diminuir. “Agora, podemos acrescentar o argumento robusto de que, se perdermos os elefantes da floresta, estaremos a prejudicar a mitigação (redução dos gases de efeito de estufa) das alterações climáticas”, sublinha o cientista norte-americano.
“A importância dos elefantes da floresta para a mitigação das alterações climáticas deve ser levada a sério pelos políticos, para gerar o apoio necessário para a sua conservação. O papel que têm no ambiente global é demasiado importante para que os ignoremos”, defende Stephen Blake.
“A caça e o tráfico ilegal continuam. Já houve dez milhões de elefantes em África e agora são menos de meio milhão, com a maior parte das populações a viver em grupos isolados, que são classificados como ‘em risco’ ou ‘em risco crítico’ de extinção. O seu número diminuiu mais de 80% nos últimos 30 anos”, relata o cientista.
“Como sociedade global, temos uma escolha: continuar a caçar estes animais altamente inteligentes e sociais e vê-los extinguirem-se ou encontrarmos formas de parar a caça ilegal”, propõe Blake. “Salvar os elefantes é ajudar a salvar o planeta, é tão simples como isto.”