“Não derramem lágrimas”, diz rei Mswati sobre assassínio de opositores

Mercenários mataram a tiro um advogado de direitos humanos e opositor do rei absoluto de Eswatini. Thulani Musaki meteu o rei em tribunal por ter mudado o nome do país sem respeitar a Constituição.

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O rei Mswati III é o último monarca absoluto de África Reuters/Stringer .

Para o último monarca absoluto de África, o rei Mswati III, de Eswatini, antiga Suazilândia, a culpa da morte do advogado de direitos humanos Thulani Maseko só a ele se deve. Se mercenários passaram por sua casa no sábado à noite e o mataram a tiro isso foi porque ele ousou desafiar as decisões do seu rei.

Pelo menos isso é o que se pode depreender das palavras de Mswati horas antes de Maseko, fundador do Multi-Stakeholder Forum (MSF), coligação de partidos opositores, associações e igrejas, ter sido morto, quando o rei se referia aos activistas e políticos que ousavam desafiar o chefe de Estado: “As pessoas não devem derramar lágrimas e lamentar-se porque mercenários os mataram”.

“Foram essas pessoas a começar a violência, mas quando as instituições do Estado as reprimem pelas suas acções, fazem muito barulho, acusando o rei Mswati de trazer mercenários”, acrescentou, citado pela Al-Jazeera.

Para a organização não-governamental sul-africana Freedom Under Law a morte de Maseko, defensor “incessante e intrépido” dos direitos humanos, “não deveria surpreender ninguém”, pois há muito que o advogado e activista sofria “nas mãos de um regime omisso”. Mas, segundo a ONG, ele vivia segundo o lema “a minha cabeça sangra, mas não se baixa”.

Thulani Maseko, junto com o director da revista The Nation, Bheki Makhubu, tinha aberto um processo contra o monarca, por considerar inconstitucional a decisão de Mswati de mudar o nome do país, em 2018, de Suazilândia para Eswatini, para assinalar o 50.º aniversário da independência do Reino Unido.

Tanto Maseko como Makhubu, defensores da transição do país para uma democracia multipartidária, acabaram por ser presos por desobediência ao executivo e ao poder judicial pelos artigos que escreveram sobre o assunto.

O comissário dos direitos humanos das Nações Unidas, Volker Türk, condenou esta segunda-feira “o assassínio brutal” de Maseko. Segundo a ONU, o advogado estaria a representar duas pessoas que vão ser julgadas por alegados crimes cometidos durante os protestos de 2021, onde mais de 80 manifestantes, de acordo com a Amnistia Internacional, foram mortos na repressão das marchas que pediam reformas políticas e judiciais.

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