Continua a não haver nada como Reservation Dogs
A série, uma comédia dramática com realismo mágico passada numa reserva indígena co-criada por Sterlin Harjo e Taika Waititi, está de volta ao Disney+ para uma segunda temporada.
Quando a segunda temporada de Reservation Dogs começa, o grupo de adolescentes nativos americanos que dá título à série está mais ou menos separado. Cada um seguiu a sua vida, após uma óptima primeira temporada que culminava num tornado que acabou por poupar a reserva indígena em que vivem no Oklahoma rural. Continuam, como no início, a lidar com o suicídio de um amigo, peça fundamental do grupo, que tinha o sonho de ir viver para a Califórnia e escapar a uma existência com pouca abundância material, mas muito amor em comunidade. E há quem continue a tentar cumprir o sonho dele.
Esta nova leva de dez episódios da série criada por Sterlin Harjo, que escreve e realiza, com a ajuda (mais de emprestar um nome que abre portas e atrai olhos para um projecto do que outra coisa qualquer) de Taika Waititi, chegou, sem pompa nem circunstância, ao Disney+ no início de Janeiro. Continua a ser uma comédia dramática com realismo mágico, com espíritos – hilariantes – que assombram as personagens.
Reservation Dogs está cada vez mais apurada, com tempo dado às personagens estranhas e interessantes que existem na periferia dos miúdos, com digressões de episódios bizarros que mal seguem os principais, e espaço para aprofundar ainda mais a história e o passado das suas famílias. Não se parece com nada que exista na televisão, no máximo talvez partilhe alguns pontos com Atlanta, a série de Donald Glover, mas não existe ninguém no mundo que pudesse confundir as duas, são histórias, personagens, tons, preocupações e contextos totalmente diferentes.
A morte de Daniel, o amigo que se matou, continua a pairar sobre tudo, mas há mais perdas que impactam os miúdos à beira da idade adulta. A passagem do tempo, sonhos que não se cumpriram, vidas que não atingiram o seu potencial, o envelhecimento que chega sem avisar ninguém. Estão a crescer e a evoluir depois de uma juventude dada ao pequeno crime, mas não sabem o que fazer. Precisam, ao longo destes episódios, de encontrar empregos, decidir o que vai ser a vida deles, tentar livrar-se de maldições, cumprir castigos das mães, etc.
O elenco, encabeçado por Devery Jacobs como Elora e D’Pharoah Woon-A-Tai como Bear, os principais do grupo, que também inclui Cheese (Lane Factor) e Willie Jack (Paulina Alexis), mantém-se impressionante, com lendas veteranas que Hollywood nem sempre soube usar ao máximo, como Gary Farmer (que pudemos ver em filmes de Jim Jarmusch) ou Wes Studi (de O Último dos Moicanos, de Michael Mann), e caras que podemos reconhecer esporadicamente, como as das irmãs Sarah, Jennifer e Tamara Podemski, Zach McClarnon, Geraldine Keams, mas nunca tiveram muitas oportunidades para fazer algo assim. Isto além de caras novas, como Elva Guerra ou fenómenos como o duo de rap LiL Mike & FunnyBone e Nathan “Doggface” Apodaca, que teve êxito viral com um vídeo a andar de skate e a beber sumo ao som de Fleetwood Mac. Além deles, há também convidados como Megan Mullally, de Will & Grace, ou Marc Maron, o podcaster e cómico.