Rotação do núcleo interno da Terra parou recentemente, sugere novo estudo
Cientistas chineses desenvolveram um trabalho que, a partir da análise de sismos, mostra que o núcleo interno da Terra terá parado nos últimos anos.
Um novo estudo publicado na revista científica Nature Geoscience sugere que a rotação do núcleo interno da Terra pode ter parado recentemente e pode estar a rodar no sentido contrário ao da superfície terrestre. Nem todos os cientistas parecem estar de acordo com alguns aspectos deste trabalho.
Após o estudo de ondas sísmicas de terramotos, em 1936, foi descoberto o núcleo interno da Terra, relembra-se num artigo no site da revista Nature. Alterações na velocidade dessas ondas foram revelando que o núcleo consistia num centro sólido composto sobretudo de ferro, mas também de outros elementos. A rotação do núcleo interno é guiada por um campo magnético gerado no núcleo externo e equilibrado por efeitos gravitacionais do manto. Uma das questões tem sido a velocidade da sua rotação e se esta varia.
Essas foram as questões de Yi Yang e Xiaodong Song, da Escola de Ciências Espaciais e Terrestres da Universidade de Pequim, na China. Na sua investigação analisaram a diferença da forma e da viagem temporal de ondas sísmicas de terramotos que passaram no núcleo interno terrestre e que tiveram percursos semelhantes desde os anos de 1960.
Grande resultado: desde 2009, verificaram que padrões que antes tinham mostrado uma variação temporal significativa tinham tido poucas alterações, o que sugeria que a rotação do núcleo interno da Terra tinha parado. Mais: sugerem que isto possa estar associado a uma reversão da rotação do núcleo interno como parte de uma oscilação que muda a cada sete décadas e que pode ter ocorrido no início dos anos 70.
“Os autores concluem que esta oscilação na rotação do núcleo interno, que coincide com mudanças periódicas no sistema da superfície da Terra, demonstra a interacção entre diferentes camadas da Terra”, assinala-se num resumo sobre o trabalho.
No artigo do site da Nature, indica-se que estes resultados podem ajudar a resolver os muitos mistérios das profundezas da Terra, nomeadamente que parte do núcleo interno tem um papel na manutenção do campo magnético e na velocidade da rotação do planeta.
Um outro trabalho publicado na revista Science Advances em Junho de 2022 propunha algo semelhante, mas a metodologia tinha sido diferente. O trabalho de John Vidale e Wei Wang, da Universidade do Sul da Califórnia (Estados Unidos), analisou sismos causados por bombas nucleares detonadas pela União Soviética entre 1971 e 1974, relembra-se num artigo do jornal espanhol El País. Os resultados desse estudo sugeriam que nessa altura o núcleo interno tinha parado e começado a girar no sentido contrário relativamente à superfície, o que até coincide com os resultados do estudo agora publicado.
Contudo, John Vidale tem dúvidas quanto a certos aspectos do trabalho agora publicado. “O novo estudo é muito bom, mas mesmo assim é difícil de confirmar se o que se propõe está certo”, afirmou ao El País. As suas dúvidas recaem sobre a quantidade de sismos válidos para o estudo e propõe que se continue a simular a Terra através de computação com computadores muito potentes. “É possível que em cinco ou dez anos, com mais dados e melhores simulações, possamos saber se, como parece, o núcleo da Terra segue estes ciclos.” E acrescentou ao site da Nature: “Temos de esperar.”
Também ao El País, Puy Ayarza, directora do Departamento de Geologia da Universidade de Salamanca (Espanha), e que não participou no último estudo, considera que este trabalho é “inovador e provocador”. Para esta cientista, a investigação agora revelada “encaixa bem com os factos comprovados, como os do que o campo magnético terrestre estar a mudar muito rapidamente nas últimas décadas”.