Conselho para Saúde e Ambiente quer reduzir emissões no sector até 2035

Conselho Português para a Saúde e o Ambiente defende estratégia global para reduzir a pegada ecológica no sector e promete lançar o Movimento Saúde Verde.

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Conselho Português para a Saúde e o Ambiente defende que o sector da saúde deve ter um papel mais activo na luta contra a crise climática Tiago Lopes

O Conselho Português para a Saúde e o Ambiente (CPSA) defendeu, esta segunda-feira, a criação de uma estratégia global para reduzir a pegada ecológica no sector da saúde, com metas como atingir zero emissões de gases com efeito de estufa até 2035.

"É preciso ter em consideração que o sector da saúde é responsável por 4,4% da emissão de gases com efeito de estufa. Se fosse um país, seria o quinto país com maiores emissões do planeta", disse à agência Lusa o médico internista Luís Campos, presidente do CPSA.

Luís Campos disse que se tem constado é que "está tudo por fazer" em Portugal no sentido de diminuir esta pegada ecológica no sector da saúde. E defendeu "uma estratégia global do sistema de saúde", que seja considerada "uma prioridade política", com a definição de várias metas.

"A meta que propomos é que atinjamos zero emissões em 2035 em tudo aquilo que depender directamente da actividade do sector e, em 2040, em tudo aquilo que dele depender indirectamente", adiantou o dinamizador da criação do CPSA em Outubro de 2022. O médico advogou ainda a necessidade de acções parcelares em cada um dos sectores da saúde.

"Os profissionais de saúde são as melhores pessoas para identificar boas práticas que aumentem a sustentabilidade ambiental na saúde e por isso é que vamos lançar o Movimento Saúde Verde, que pretende mobilizar as 48 organizações que compõem o Conselho Português para a Saúde e o Ambiente, no sentido de elaborarem normas e recomendações de boas práticas de sustentabilidade ambiental em cada uma das suas áreas que sejam simples, concretas, eficientes e eficazes, o que pretendemos que aconteça já em 2023", salientou.

Eficiência energética e hídrica

O presidente do CPSA realçou também que, no âmbito da estratégia global, tem de haver investimento na eficiência energética e hídrica e em energias renováveis nos edifícios já existentes.

Para os novos edifícios, devem ser criadas regras que obriguem à aplicação de medidas que aumentem a sustentabilidade energética, deve ser promovida a electrificação da frota automóvel e a transição da iluminação para lâmpadas LED. Devem também ser promovidos a telemedicina e os cuidados de proximidade para que haja uma redução nos trajectos dos profissionais e dos doentes.

A estratégia deve ainda envolver a revisão da legislação sobre a reutilização e reciclagem dos dispositivos médicos e sobre a classificação dos resíduos hospitalares, bem como promover a criação de espaços verdes nas unidades de saúde e a redução de todos os desperdícios.

Questionado sobre se os agentes do sector da saúde estão sensibilizados para este problema, Luís Campos disse que "quer o público quer os profissionais de saúde não estão ainda consciencializados para a necessidade de introduzir este critério e esta prioridade na sua prática clínica".

Acção climática já na universidade

"O que nós pretendemos é aumentar a consciencialização sobre este problema, não só do público, mas dos profissionais de saúde, promover a formação e a investigação", capacitando o sistema de saúde para "responder melhor" aos desafios epidemiológicos e os eventos inesperados decorrentes das alterações climáticas e dos atentados ambientais, disse.

Para Luís Campos, a degradação ambiental deve fazer parte do ensino pré e pós-graduado dos profissionais de saúde e cada profissional de saúde deve ser "um exemplo de comportamentos amigos do ambiente".

O CPSA é uma associação sem fins lucrativos, que reúne 48 organizações ligadas à Saúde, incluindo seis ordens profissionais, onze associações, sete laboratórios da indústria farmacêutica, quinze sociedades científicas, três grupos privados de saúde, três instituições académicas e outras organizações.

Luís Campos, que preside ao CPSA, é ainda presidente da Comissão de Qualidade e Assuntos Profissionais da Federação Europeia de Medicina Interna. Em 2021, também foi nomeado coordenador da Área dos Cuidados Hospitalares do Grupo de Apoio às Políticas de Saúde do Ministério da Saúde.

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