Cotrim Figueiredo para António Costa: “Habitue-se”

Líder demissionário da Iniciativa Liberal promete que o partido vai continuar a irritar o primeiro-ministro.

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João Cotrim Figueiredo sublinhou o crescimento do partido nos últimos anos NFS Nuno Ferreira Santos
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Cotrim Figueiredo despediu-se da liderança NFS Nuno Ferreira Santos

João Cotrim Figueiredo despediu-se da liderança da Iniciativa Liberal (IL) com respostas a críticas internas e com críticas ao Governo, elogiando a oposição "inteligente e eficaz" que o partido faz. “É boa altura para dizer aqui ao primeiro-ministro que a Iniciativa Liberal aqui está para lhe continuar a dar motivos para se irritar: habitue-se”, afirmou na VII Convenção Nacional do partido, que escolhe um novo líder neste fim-de-semana.

Afastando a ideia de que é o seu discurso de despedida, Cotrim Figueiredo referiu a evolução da IL – no final de 2019, o partido tinha apenas 600 membros e agora tem seis mil – e sublinhou o percurso de sucesso no crescimento do partido. “Ser liberal passou a ser motivo de orgulho para muitos milhares de portugueses e motivo de respeito para muitos outros. Isto é apenas o princípio: acreditamos que cada vez mais portugueses se vão orgulhar de serem liberais”, afirmou.

O ainda líder considerou que a IL “fez a diferença” num conjunto de matérias, a começar pela bandeira do crescimento económico, mas também no contributo que deu na lei da eutanásia, nas liberdades individuais durante a pandemia, na redução da carga fiscal e no tema da TAP.

A propósito da companhia aérea, Cotrim acusou António Costa de fazer uma “pirueta” ao pretender agora privatizar a empresa e apontou baterias ao ministro das Finanças. “Fernando Medina não sabe de nada, mas esse também nunca sabe de nada, está sempre distraído. Não sabia dos dados dos dissidentes ucranianos enviados à embaixada russa, não sabia das indemnizações pagas na TAP e agora não sabe como é que um ex-autarca do PS de Castelo Branco era o único capaz de fiscalizar adjudicações em Lisboa”, disse, aludindo à possível sucessão do actual primeiro-ministro no PS: “Fernando Medina nunca sabe de nada, pelo menos nesse aspecto daria um óptimo sucessor de António Costa, que também é especialista a sacudir a água do capote.”

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Imagem geral da convenção Nuno Ferreira Santos

Críticas "injustas e descabidas"

Aplaudido pelos membros da convenção, que decorre em Lisboa, João Cotrim Figueiredo aproveitou para rebater as críticas internas de que foi alvo. “Disseram que fui cabecilha de um comité central. Algo que entra no domínio do delírio e que só não é ofensivo porque tem uma certa graça”, disse, considerando que “algumas críticas foram injustas e descabidas”. A comparação com o comité central do PCP foi feita a 9 de Dezembro por Tiago Mayan, em entrevista ao Observador. O antigo candidato à Presidência da República é apoiante de Carla Castro.

Cotrim Figueiredo foi também condenado por ter assumido o apoio a Rui Rocha, um dos candidatos à liderança do partido. O ainda presidente da comissão executiva sustentou que os seus direitos políticos não estavam “diminuídos” e que continuará a ser “militante de base”. No entanto, aceitou “com humildade” a crítica de que não conseguiu adaptar a estrutura e o funcionamento do partido para corresponder “às ambições de crescimento”.

Num discurso de meia hora, o deputado justificou a moção de censura apresentada este mês ao Governo. “Porque um Governo que não explica o passado, não cuida do presente e não prepara o futuro não merece governar”, atirou, lembrando as “13 demissões em dez meses” e a “evidente desagregação” bem como as falhas do Estado em áreas como a saúde, educação e o PRR.

Apelando a que o partido aproveite a “satisfação” como “ponto de partida de um novo ciclo de crescimento” embora com “consciência das dificuldades”, Cotrim disse sair com “orgulho e sentimento de dever cumprido”.

Atraso por procedimentos

Com 2300 inscritos, a convenção nacional da IL arrancou com quase duas horas de atraso, acolhendo 790 pessoas na sala e 381 a assistir remotamente.

No arranque da convenção, o candidato à liderança José Cardoso propôs estabelecer a realização de uma segunda volta já que o regimento prevê apenas uma vitória por maioria simples, mas o requerimento foi rejeitado.

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Cotrim repetiu que Portugal precisa do liberalismo Nuno Ferreira Santos

Segundo Mariana Leitão, presidente da mesa do conselho nacional, o órgão rejeitou, por unanimidade, a proposta por considerar que seria contrário aos estatutos que “não permitem mudar as regras a meio da convenção”. A decisão foi confirmada pelo conselho de jurisdição e por uma maioria de membros da convenção: 799 votaram a favor, 133 estiveram contra e 176 abstiveram-se.

Na fase de debate, após a votação, José Cardoso disse desvalorizar que existam 300 opiniões diferentes da sua, mas “não que o árbitro tome partido”. “Este é o órgão máximo do partido e podia sempre alterar o regimento”, sustentou, considerando que a segunda volta “permite o debate de ideias”. Defendendo que a comissão executiva deve der legitimada com mais de 50% dos votos, José Cardoso questionou: “Quem tem medo desta segunda volta? Quem tem medo de um terço do partido que está aqui a decidir? Eu não.”

O regimento da convenção foi ratificado com 799 a favor, 48 contra e 162 abstenções.

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