A greve dos professores (segundo uma aluna do secundário)

Tenho 16 anos. Em breve terei 18. Acredito, enquanto jovem e enquanto futura contribuinte, que um dos pilares da construção de um estado é o serviço público.

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Greve dos professores LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

O ano de 2023 começou com greves na educação. Os vários sindicatos convocaram paralisações, e algumas escolas começaram a encerrar. Eu sou aluna do 11.º ano do Liceu Camões e segunda-feira passada não tive aulas. Não tive aulas, porque todos os meus professores estavam, em frente à escola, em protesto. Quando perguntei à minha professora de Inglês se iríamos ter aula, apontou para o cartaz que tinha ao pescoço: “Sem professores, não há educação.”

Estive, e estou, solidária. Não podia deixar de estar solidária. Qualquer aluno que acredite na escola pública, está, ou pelo menos deveria estar, solidário. Solidário com os professores. Solidário com os assistentes operacionais. E, acima de tudo, mais importante do que qualquer outra coisa, solidário com o serviço público.

A minha mãe trabalha, desde os 18 anos, na função pública. Tem agora 48. Acredita profundamente, como muitos, no serviço público. No entanto, depois de 30 anos de uma carreira valorosa, recorda o congelamento do salário, da carreira e a sujeição a normas injustas: apesar de ser a primeira a chegar e a última a sair, nunca poderá concorrer a um lugar nas cotas, tal como muitos outros professores.

Tenho 16 anos. Em breve terei 18. Acredito, enquanto jovem e enquanto futura contribuinte, que um dos pilares da construção de um estado é o serviço público. Mas hoje pergunto-me como me posso tornar uma cidadã de pleno direito, num país que caminha para a desvalorização extrema do serviço público.

Segunda-feira passada não tive aulas. Não tive aulas, porque todos os meus professores estavam, em frente à escola, em protesto. Confesso, é divertido ver o meu professor de Educação Física tocar gaita-de-foles e a minha professora de Português empunhar gritos reivindicativos impacientes. Mas há algo estranho em tudo isto. Não estou habituada a ver os meus professores neste registo. E não quero, de maneira alguma, habituar-me a ver algum trabalhador da função pública na rua.

Segunda-feira passada não tive aulas em homenagem ao serviço público. Por isso, quando me perguntam se me considero prejudicada, respondo: um dia de aulas, em nome dos professores, dos assistentes sociais, dos varredores de rua, das actuais e futuras gerações e, acima de tudo, em nome do futuro do meu país.

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