Reunião de Ramstein termina sem decisão sobre envio dos Leopard para a Ucrânia

Não houve um “sim”, mas também não houve um “não”. Polónia esperar que seja conseguida uma aliança e, assim, a “luz verde” de Berlim para reexportar os carros de combate de fabrico alemão.

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O ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, disse que Berlim “está disposta a avançar com rapidez” se houver unanimidade no envio de carros de combate para a Ucrânia Reuters/WOLFGANG RATTAY

A reunião dos ministros da Defesa dos países aliados da Ucrânia que decorreu em Ramstein terminou sem uma decisão sobre o envio dos Leopard 2, quando todos os olhos estavam postos no que faria a Alemanha, que, como país fabricante, pode dar "luz verde" à reexportação para a Ucrânia dos carros de combate por outros países europeus.

No fim da reunião, o secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, sublinhou que a Ucrânia não está dependente de um único tipo de equipamento militar, e elogiou o Governo alemão pela sua “liderança”, dizendo que o país é um "aliado confiável". A Alemanha tem, no entanto, exasperado alguns países, sobretudo a Polónia, que antes do encontro declarou que considerava enviar 14 Leopard 2 para a Ucrânia mesmo sem autorização alemã.

O ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, disse pelo seu lado que Berlim “está disposta a avançar com rapidez” se houver unanimidade no envio de carros de combate para a Ucrânia o que, acrescentou, ainda não aconteceu. Pistorius garantiu ainda, em declarações a meio do encontro, que a Alemanha não está a bloquear o envio dos Leopard 2.

A Polónia expressou optimismo, mesmo sem haver decisão, como era esperado. “Há esperança no facto de os ministros da Defesa de 15 países se terem encontrado à margem da conferência e falado sobre este assunto”, disse Mariusz Blaszczak, citado pela Reuters. “Estou convencido que a construção de uma coligação vai acabar por ser um sucesso.” As declarações de Pistorius na véspera, de que poderia haver uma decisão dentro de dias, também aumentou a especulação de poder haver ainda um “sim” alemão.

Mas de Varsóvia veio uma reacção menos positiva, com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Zbigniew Rau, a dizer no Twitter que “o preço da hesitação” é o “sangue ucraniano”.

Enquanto isso, a Rússia comentava que o envio de carros de combate ocidentais para a Ucrânia não faria diferença. “Não vale a pena exagerar a importância destas entregas em termos da sua capacidade de fazer a diferença”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, segundo a agência russa Interfax. Os carros de combate levantam questões de abastecimento, manutenção e fornecimento de munições.

Leopard só com Abrams?

Os responsáveis alemão e americano também negaram que, como escreveu na quarta-feira o diário norte-americano The Wall Street Journal, a Alemanha estivesse a condicionar a sua luz verde ao envio dos Leopard a uma decisão dos EUA fornecerem o seu Abrams à Ucrânia, tendo mesmo sido posta por comentadores a hipótese de Washington considerar um envio simbólico para dar cobertura política a Berlim. Mas o ministro da Defesa da Alemanha negou, logo na quinta-feira à noite, ter conhecimento desta condição.

E Lloyd Austin fez o mesmo nesta sexta-feira. “Penso que ouviram o ministro da Defesa da Alemanha dizer que não há qualquer ligação entre o fornecimento de M1 [Abrams] e o fornecimento dos Leopard”, disse aos jornalistas, citado pela CNN. “Por isso essa noção de desbloquear [o envio de Leopard através do envio de Abrams], na minha cabeça, não faz sentido.”

O envio de Abrams para a Ucrânia tem levado a um debate intenso, com alguns especialistas a apontarem todos os seus problemas (o motor de turbina exige uma enorme quantidade de combustível, precisam de uma equipa treinada para reparações frequentes e peças sobresselentes, por exemplo), enquanto outros defendem que todos estes problemas são ultrapassáveis se houver vontade.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que apelou ao envio de carros de combate modernos (a Ucrânia recebeu até agora tanques de fabrico soviético), disse que Kiev iria ter de “lutar mais” por este envio, ainda que a cada dia seja “mais óbvio que não há alternativa a tomar uma decisão sobre carros de combate.” Isto depois de ter agradecido a aliados o envio de mais armas: aos EUA, por exemplo, que anunciaram “um poderoso pacote de defesa”; e à Finlândia, que anunciou o maior pacote de ajuda militar até agora.

A Ucrânia pede os carros de combate para conseguir fazer recuar as forças russas, quando se espera uma nova ofensiva de Moscovo na Primavera, que deverá envolver centenas de milhares de novos recrutas (da mobilização parcial anunciada em Setembro por Vladimir Putin).

Os Leopard 2 seriam especialmente práticos já que só precisam de uma formação rápida e haverá actualmente cerca de dois mil em uso na Europa, distribuídos por pelo menos 13 países, segundo o European Council on Foreign Relations. Seria muito mais eficiente ter um só tipo de carro de combate pesado e moderno do que vários, que exigem treino e logísticas diferentes.

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