Removemos 2000 milhões de toneladas de CO2 por ano da atmosfera – mas é preciso mais

Árvores e solos são a forma mais eficaz de retirar CO2 da atmosfera. Seria necessário aumentar 1300 vezes os meios tecnológicos de remoção até 2050, para evitar aquecimento global acima de dois graus.

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Central a carvão Datteln 4 em Datteln, na Alemanha: a remoção de CO2 da atmosfera ainda não está a ser incluída nos planos dos países para reduzir as emissões até 2030 EPA/FRIEDEMANN VOGEL

Cerca de duas mil milhões de toneladas de dióxido de carbono são removidas da atmosfera todos os anos, de acordo com um relatório publicado nesta quinta-feira. Mas quase toda esta remoção acontece graças às florestas, apesar de haver cada vez mais investimentos em tecnologias para esse fim.

O relatório independente, liderado pela Universidade de Oxford, é o primeiro a avaliar a quantidade de dióxido de carbono (CO2) que está a ser retirada da atmosfera – e quanto precisávamos de estar realmente a remover, para aliviar o efeito de estufa que causa o aquecimento global.

A estimativa é de que é necessário que haja 1300 vezes mais remoção de CO2 da atmosfera com meios tecnológicos e duas vezes mais graças à acção natural das árvores e dos solos até 2050, para limitar o aquecimento global a menos de dois graus Celsius acima da temperatura média global anterior à Revolução Industrial – como estipula o Acordo de Paris.

“A remoção de CO2 da atmosfera está a ganhar importância rapidamente”, disse Steve Smith, um climatólogo da Universidade de Oxford e um dos 20 co-autores do relatório. “Mas há grandes lacunas de informação”, sublinhou, apesar de o interesse e o investimento nesta área ser cada vez maior.

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A selva amazónica numa foto aérea tirada no estado de Mato Grosso, no Brasil REUTERS/Rickey Rogers

A remoção de CO2 da atmosfera implica a captura deste gás com efeito de estufa e armazenamento durante períodos longos de tempo, seja em terra, no oceano, formações geológicas ou produtos artificiais. Até ao presente, as acções de remoção com maior sucesso foram, de longe, medidas como plantar árvores e fazer uma gestão adequada dos solos.

Entre 2020 e 2022, de acordo com o relatório, o investimento global em nova capacidade de remoção de CO2 foi de cerca de 200 milhões de dólares (184,5 milhões de euros). Ainda pouco, quando vemos que um total de quatro mil milhões de dólares (3700 milhões de euros) foram canalizados para investigação e desenvolvimento financiada por dinheiros públicos.

Embora a remoção de CO2 da atmosfera ainda não esteja a ser incluída nos planos dos países para cumprir os objectivos de redução das emissões até 2030, muitos estão a pensar nela como parte da estratégia para alcançar a neutralidade carbónica em 2050 (ou seja, o ponto em que o balanço entre as emissões e as remoções de gases de efeito da atmosfera da atmosfera seja nulo).

Jan Minx, do Instituto de Investigação Mercator sobre os Bens Comuns Globais e as Alterações Climáticas, na Alemanha, que é outro co-autor do relatório, disse que a redução das emissões de gases com efeito de estufa continua a ser a principal prioridade para alcançar os objectivos do Acordo de Paris. “Mas, ao mesmo tempo, temos de começar a desenvolver e a escalar de forma agressiva a remoção de CO2, em particular com novos métodos”, afirmou, citado num comunicado de imprensa da Universidade de Oxford.

Mas isso vai levar tempo, “e estamos ainda a começar”, salientou.

Em Dezembro, o Departamento de Energia dos Estados Unidos destinou 3700 milhões de dólares (3410 milhões de euros) para o financiamento de projectos de remoção de CO2 da atmosfera. E a União Europeia tem como objectivo capturar cinco milhões de toneladas de CO2 anualmente até 2030, embora o projecto seja criticado por organizações de defesa do ambiente como uma forma de prolongar o modelo de negócio das empresas de combustíveis fósseis.