Greta em Davos: empresas de energia não se importam com o sofrimento que causam

Esta quinta-feira, em Davos, na Suíça, a jovem activista sueca confrontou o homem que está à frente da Agência Internacional de Energia e pediu um travão nos investimentos em combustíveis fósseis.

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Greta e as três outras activistas climáticas com a notificação de “cease and desist” para que as empresas não iniciem novas explorações de gás, petróleo e carvão GIAN EHRENZELLER/EPA

A activista climática mais poderosa do mundo confrontou o homem que tem a responsabilidade de regular a energia global em Davos, na Suíça, nesta quinta-feira, e exigiu o fim dos investimentos nos combustíveis fósseis.

Greta Thunberg apelou ao director executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), Fatih Birol, para que trave os investimentos na indústria global de energia e o sistema financeiro que a suporta, com investimentos em energias com elevadas emissões de carbono.

“Desde que possam safar-se, vão continuar a investir em combustíveis fósseis, não se importam com o sofrimento das pessoas”, avisou Thunberg.

Durante uma mesa-redonda com Birol, à margem do programa do Fórum Económico Mundial que decorre em Davos, activistas pelo clima apresentaram uma notificação de “cease and desist” [uma notificação extrajudicial que atesta a exigência de que determinada conduta seja interrompida], assinada por 900 mil pessoas, dirigida a administradores de empresas presentes, em que fazem o pedido expresso para que se travem novas explorações de petróleo, gás e carvão.

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Fatih Birol na mesa redonda com as activistas climáticas, incluindo Greta Thunberg, em Davos EPA/GIAN EHRENZELLER

A indústria do petróleo e do gás natural, que tem sido acusada pelos activistas do clima de estar a sequestrar o debate sobre as alterações climáticas nesta estância de esqui Suíça – onde se juntam líderes mundiais, empresariais e intelectuais –, responde dizendo que tem de fazer parte da transição energética. Isto, porque os combustíveis fósseis vão continuar a desempenhar um papel muito importante no “mix” energético mundial, mesmo quando o mundo está a tentar transitar para uma economia de baixa intensidade de carbono.

Thunberg juntou-se a outras conhecidas activistas pelo clima – Helena Gualinga, do Equador, Vanessa Nakate, do Uganda, e Luisa Neubauer, da Alemanha – para discutir estes temas fundamentais da actualidade com Fatih Birol.

O director executivo da AIE agradeceu às activistas por estarem ali a conversar com ele, mas insistiu que a transição tem de incluir vários tipos de intervenientes, especialmente quando enfrentamos uma crise de segurança energética global causada pela guerra da Rússia contra a Ucrânia.

Fatih Birol concordou que nada justifica investimentos em novas explorações petrolíferas para superar a presente crise energética, porque na altura em que estivessem operacionais o problema mais importante seria a crise climática.

“Algum optimismo”

Birol sublinhou, no entanto, que não está tão pessimista como as activistas climáticas com quem estava a falar acerca da transição para uma energia mais limpa. “É legítimo termos algum optimismo”, afirmou. “No ano passado, a quantidade de energia de fontes renováveis que chegou ao mercado atingiu um valor recorde”, recordou.

Admitiu, todavia, que a transição energética não está a decorrer de uma forma suficientemente rápida, e alertou que os países emergentes e em desenvolvimento se arriscam a ficar para trás, se as economias avançadas não os apoiarem na sua transição.

A Conferência do Clima das Nações Unidas, que decorreu em Novembro passado, no Egipto, criou um fundo de perdas e danos para compensar os países que sofrem mais o impacto de fenómenos meteorológicos extremos, como ciclones e inundações, relacionáveis com as alterações climáticas.

Este fundo, no entanto, “ainda é um recipiente vazio sem dinheiro nenhum”, comentou Vanessa Nakate, que fez um protesto solitário frente ao Parlamento do Uganda durante vários meses em 2019. “Precisamos de ter dinheiro verdadeiro para compensar as perdas e danos”, frisou.

Em 2019, Greta Thunberg, então com 16 anos, já tinha participado no Fórum de Davos, dizendo aos líderes mundiais uma frase que ficou célebre: “A nossa casa está a arder.” Esse acabou por ser o título do livro que ela lançou no ano passado.

Ela regressou em 2020 a Davos. Mas este ano, com o Fórum Económico Mundial a voltar ao seu formato normal, pós-covid, Thunberg recusou-se a participar como delegada oficial. Quando lhe perguntaram porque é que não quis lutar por mudanças a partir de dentro, Thunberg disse que já há muitos activistas que estão a fazer isso.

“Quem devia participar eram pessoas que estão hoje na linha da frente, e não pessoas privilegiadas como eu”, respondeu Greta Thunberg. “Acho pouco provável que as mudanças de que precisamos venham do interior do sistema. É muito mais provável que surjam a partir da base e se espalhem”, afirmou.

Reuters