Andy Murray continua a ganhar na era do metal

O tenista escocês continua a jogar ao mais alto nível apesar da prótese metálica na anca.

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Andy Murray EPA/JOEL CARRETT

Quando no final do quarto set do embate com Matteo Berrettini, referente à primeira eliminatória do Open da Austrália, Andy Murray voou para fazer um vólei e caiu sobre o lado direito, muitos pensaram primeiro na anca de metal do tenista escocês, antes de questionarem a direcção que a bola tomou. Mas o que acabou por surpreender ainda mais foi a capacidade física de tenista de 35 anos para derrotar o actual 14.º do ranking mundial, ao fim de quatro horas e 50 minutos de jogo.

“Eu próprio já me questionei várias vezes se ainda poderia competir nos torneios maiores e nos encontros mais importantes”, reconheceu Murray, depois de sair da Rod Laver Arena sob uma enorme ovação, por derrotar Berrettini, com os parciais de 6-3, 6-3, 4-6, 6-7 (7/9) e 7-6 (10/6), após salvar um match-point.

“Estou muito orgulhoso. Ao longo dos anos, não é uma coisa que tenha sentido muito depois dos encontros. Geralmente sou muito duro comigo mesmo”, acrescentou. E quanto ao estado da anca: “Talvez vá descobrir mais logo ou amanhã. Estava tão perto da meta, mas de momento sinto-me bem.”

O curioso é que foi em Melbourne onde, em 2019, Murray anunciou, em lágrimas, o fim da carreira devido às dores provocadas pela crónica lesão, que o tinha levado à mesa de operações, um ano antes. Mas uma segunda intervenção menos invasiva, ainda em Janeiro de 2019, melhorou a estabilidade da anca e elevou as esperanças de Murray em voltar a competir ao mais alto nível.

A reeducação dos movimentos e a recuperação dos índices físicos exigidos pela alta competição demoraram a chegar, mas gradualmente, Murray foi adquirindo forma, somando encontros após encontros. E com a experiência acumulada em 20 anos no circuito profissional é um adversário que todos querem evitar, em especial, nos torneios do Grand Slam.

“Tenho trabalhado muito nos últimos dois, três meses e tenho estado a jogar bem nos treinos, mas nos últimos anos perdi alguns destes encontros nos Slams e este podia ter-me escapado. Esse trabalho fez a diferença no final”, afirmou o actual 66.º mundial, recordando as derrotas diante de Stefanos Tsitsipas no US Open de 2021 (4-6 no quinto set), John Isner em Wimbledon e Berrettini no US Open, ambas no ano passado e em quatro sets.

Mais de 10 anos depois da conquista do primeiro de três títulos do Grand Slam (US Open em 2012 e Wimbledon em 2013 e 2016), Murray fez uso da sua experiência para voltar a brilhar no Open onde, por cinco vezes (2010, 2011, 2013, 2015 e 2016) disputou a final.

“Tive um pouco de sorte no match-point, mantive-me calmo no fim e comecei bem o tie-break o que me ajudou. Mudei a resposta ao primeiro serviço, tomei a iniciativa nos pontos quando podia e acho que servi bem durante todo o encontro. Não sei qual foi o total de pontos que cada um ganhou, mas deve ter sido muito equilibrado”. Na verdade, o ex-número um mundial ganhou 166 pontos, Berrettini 161.

Na segunda eliminatória, Murray defronta o vencedor do duelo entre Thanasi Kokkinakis e Fabio Fognini, interrompido pela chuva que surgiu no final de um dia de intenso calor.

Os passos seguintes são comer, tratamento com o fisioterapeuta e ir para a cama o mais cedo possível. “Isso é uma coisa que agora faço melhor, especialmente desde que tive filhos, porque costumava deitar-me tarde. Agora dou um pouco mais de prioridade ao meu sono e ao processo de recuperação. Não espero vir a sentir-me perfeito na quinta-feira, mas espero estar bem”, revelou.

Além dos feitos nos courts, Murray é igualmente um campeão fora deles. O britânico doou todos os prémios monetários ganhos no circuito profissional desde Março de 2022 ao fundo da UNICEF destinado às crianças vítimas da guerra na Ucrânia, num total que ultrapassou os 600 mil euros. O gesto foi premiado pela ATP com o Arthur Ashe Humanitarian Award, reconhecimento que já tinha tido em 2014, pelos seus feitos solidários.

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