Cidades maias poderão ter sido servidas por auto-estradas muito antes do seu apogeu
A tecnologia aplicada à arqueologia continua a revelar o que a terra e a selva escondem no México e na América Central. Quanto mais sabemos sobre a civilização maia, mais fascinante ela fica.
Segundo um estudo publicado em Dezembro na revista Ancient Mesoamerica, da Universidade de Cambridge, mil centros urbanos da civilização maia, incluindo 417 agora descobertos e que durante milénios permaneceram escondidos pela selva densa do norte da Guatemala e do sul do México, poderão ter estado ligados entre si pelo que terá sido a primeira rede rodoviária do mundo.
A mais recente descoberta sobre a organização da rede de infra-estruturas que servia a civilização maia, com cerca de três mil anos, foi esta segunda-feira comunicada pela guatemalteca FARES, sede de investigação antropológica que supervisiona os estudos que recorrem à Lidar (Light Detection and Ranging ou Laser Imaging Detection and Ranging), tecnologia que permite determinar a distância desde um emissor laser até um objecto ou superfície utilizando um feixe laser por impulso. Em arqueologia pode ser usado para representar estruturas tridimensionais que ainda se encontram ocultas.
Neste caso os lasers foram usados a partir de aviões que sobrevoaram a floresta, fazendo o mapeamento do que a vegetação esconde, o que mais tarde viria a permitir a criação de modelos para melhor compreender o que ali existiu e foi há muito engolido pela natureza.
Todas as estruturas recém-identificadas foram construídas séculos antes do surgimento das maiores cidades-Estado maias, dando início a grandes realizações humanas em matemática e escrita. Entre os detalhes revelados nas últimas análises está o primeiro sistema de "auto-estradas ou super-estradas" de pedra do mundo antigo, de acordo com os investigadores.
Cerca de 177 quilómetros de estradas amplas foram reveladas agora, com algumas medindo cerca de 40 metros de largura e estando elevadas a cinco metros do solo.
Como parte do estudo Cuenca Karstica Mirador-Calakmul, que se estende da selva Peten do norte da Guatemala ao estado Campeche do sul do México, os investigadores também identificaram pirâmides, campos de jogos de bola e engenharia hídrica significativa, incluindo reservatórios, barragens e canais de irrigação. "Isto mostra a complexidade económica, política e social do que estava a acontecer simultaneamente em toda esta área", disse o investigador principal, Richard Hansen.
As últimas descobertas datam da chamada era maia pré-clássica média a tardia, entre cerca de 1000 e 350 a.C., com muitas das povoações que se crê serem controladas pela metrópole hoje conhecida como El Mirador. Isso foi mais de cinco séculos antes do pico clássico da civilização, quando dezenas de grandes centros urbanos prosperaram num território que hoje pertence ao México e à América Central.