Polícia italiana detém Matteo Messina Denaro, o mafioso mais procurado do país

Matteo Messina Denaro é um dos mafiosos da Cosa Nostra. Foi detido esta manhã numa clínica privada em Palermo, onde estava a fazer quimioterapia.

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No interior da carrinha para onde foi levado no momento da captura Reuters/CARABINIERI

A polícia italiana deteve, esta segunda-feira, Matteo Messina Denaro, o mafioso mais procurado do país que estava a monte há três décadas. Messina Denaro, que foi encontrado na capital da Sicília, Palermo, é um dos mafiosos da Cosa Nostra.

O mafioso estava numa clínica privada em Palermo, La Maddalena, onde estava hospitalizado a “receber tratamentos médicos”, de acordo com a polícia italiana, citada pelo diário La Repubblica. A agência Agi escreve, citando fontes da clínica, que o mafioso, actualmente com 60 anos, estava a receber tratamento de quimioterapia devido a um tumor na zona abdominal há mais de um ano e que usaria um nome falso: Andrea ​Bonafede.

Ainda tentou fugir, mas quando se viu encurralado “não resistiu” à detenção. Havia um dispositivo montado capaz de “lidar com qualquer emergência, incluindo para as pessoas presentes na clínica”, disse o comandante da política Pasquale Angelosanto, citado pelo mesmo jornal.

Pelas 9h35 da manhã, hora local, Matteo Messina Denaro foi encaminhado por militares para o interior de uma carrinha preta, que teve escolta e o aplauso de vários moradores de Palermo. Num primeiro momento, foi transferido para o quartel de San Lorenzo, tendo sido posteriormente levado para o aeroporto Boccadifalco e tendo, como destino final, uma prisão de máxima segurança​, escreve a Rai. A investigação que levou à captura de Denaro foi conduzida pelo procurador Maurizio de Lucia e pelo vice-procurador Paolo Guido, acrescenta o La Repubblica.

Giorgia Meloni, primeira-ministra italiana, já reagiu às notícias, afirmando que é “uma grande vitória para o Estado”. O antigo primeiro-ministro Matteo Renzi considera que a “prisão de Matteo Messina Denaro é uma bela notícia, um resultado histórico”. “Este é um dia de festa para todo o país. Parabéns a quem trabalhou nisto”, escreveu no Twitter.

O último "grande" chefe da máfia em fuga

Matteo Messina Denaro é filho de um dos mafiosos históricos de Castelvetrano (Trapani, Sicília), Francesco Messina Denaro, conhecido como Don Ciccio — histórico aliado de Totò Riina​. Foi, desde cedo, iniciado na vida na máfia: conta-se que aos 14 anos já sabia disparar uma arma e que aos 18 já tinha cometido homicídios. “Com as pessoas que já matei, conseguia fazer um cemitério”, terá confidenciado a um amigo.

Denaro esteve envolvido e foi condenado a prisão perpétua por diversos crimes, entre eles o rapto, tortura e assassinato do filho de 11 anos de Santinno Di Matteo, um mafioso que aceitou colaborar com as autoridades. O seu filho, Giuseppe Di Matteo, foi asfixiado e dissolvido em ácido nítrico de forma a nunca ser encontrado.

O mafioso capturado esta segunda-feira foi ainda condenado a prisão perpétua, num julgamento no qual não esteve presente, pelos assassinatos, em 1992, de dois procuradores antimáfia, Giovanni Falcone e Paolo Borsellino. Também foi condenado a prisão perpétua pelo seu papel nos ataques com bomba em Florença, Roma e Milão, que mataram dez pessoas no ano seguinte.

Foi depois destes ataques que se pôs em fuga. Na altura, escreveu uma carta a uma namorada, Angela, em que admitia que seria associado aos ataques violentos e anunciava o início da sua vida como "pimpinela escarlate" (ou mestre da fuga): “Vais ouvir muito sobre mim, vão pintar-me como um diabo, mas é tudo mentira.”

Em Setembro de 2022, a polícia admitiu que ele ainda era capaz de dar ordens sobre a forma como a máfia era gerida na área de Trapani, o seu reduto regional, apesar de estar há muito desaparecido.

Matteo Messina Denaro era o último “grande” chefe da Máfia que ainda estava a monte. Estiveram envolvidas centenas de pessoas na investigação e no processo ao longo dos anos. A fuga foi uma das mais longas da História – equiparável à de Totò Riina, que esteve foragido por 23 anos (e que foi capturado há precisamente 30 anos, a 15 de Janeiro de 1993), e Bernando Provenzano, que escapou à prisão durante 38 anos.