Maioria dos peruanos acusa autoridades de excesso de uso da força na contenção dos protestos

Sondagens atestam impopularidade da Presidente interina e do Congresso, e o incómodo com opções de Castillo. Estado de emergência prolongado por mais 30 dias.

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Na cidade de Juliaca, morreram 18 pessoas nos confrontos entre polícias e manifestantes e o Governo impôs o recolher obrigatório em todo o departamento de Puno Reuters/STRINGER

Mais de um mês depois de o Congresso da República do Peru ter destituído o Presidente Pedro Castillo e escolhido a ex-vice-presidente, Dina Boluarte, para o seu lugar, os protestos populares contra o Governo continuam sem fim à vista. Segundo as autoridades, já morreram pelo menos 49 pessoas em todo o país.

A situação de instabilidade levou Boluarte a anunciar, no sábado à noite, a renovação do estado de emergência, por mais 30 dias, na capital, Lima, e nas regiões de Puno, Cusco, Callao, Apurímac, Madre de Dios e Moquegua.

Assim, a Polícia Nacional continuará a ter poderes alargados para “manter a ordem”, com o apoio das Forças Armadas.

Para além disso, no departamento de Puno, no Sul do Peru, foi imposto o recolher obrigatório durante dez dias – na semana passada morreram 18 pessoas na cidade de Juliaca, em Puno, em confrontos entre manifestantes e a polícia.

O facto de terem morrido pessoas que nem sequer estavam directamente envolvidas nos protestos – como menores ou pessoal médico que prestava apoio aos feridos – está a motivar duras críticas ao Governo e às forças de segurança, acusadas de repressão violenta e de uso excessivo da força.

Essa é a posição da maioria dos peruanos, segundo uma sondagem do Instituto de Estudos Peruanos (IEP), publicado no domingo pelo La Republica. O inquérito diz que 58% dos participantes acha que a polícia e o Exército estão a actuar com excesso de força.

Apesar de a grande maioria não concordar com os ataques e os actos de vandalismo dos manifestantes contra edifícios públicos (90%), aeroportos (82%), forças de segurança (81%) e estabelecimentos comerciais (74%), nem com os bloqueios de estradas (68%), 60% dos participantes defende que os protestos se justificam.

As manifestações de rua começaram pouco depois da destituição e detenção de Castillo, a 7 de Dezembro. O ex-Presidente peruano foi acusado de rebelião – e vai ficar detido preventivamente durante 18 meses – depois de ter anunciado, nesse dia, a dissolução do Congresso e a instalação de um executivo “de excepção”, por si liderado, que iria governar por decreto.

Castillo, antigo professor primário, de esquerda, não teve, no entanto, o apoio dos seus aliados políticos, da Justiça e das Forças Armadas, que o acusaram de estar a levar a cabo um “golpe de Estado”. Nesse mesmo dia, o Congresso nomeou Boluarte para o seu lugar.

Os apoiantes de Castillo exigem a demissão da Presidente e a marcação de eleições antecipadas – o Congresso aprovou a proposta de Boluarte de antecipar as eleições, mas apenas para 2024.

Uma outra sondagem, da Ipsos, publicada no mesmo dia do estudo da IEP, pelo Perú21, dá conta do enorme estado de insatisfação dos peruanos em relação à classe política.

Setenta e um por cento dos inquiridos desaprovam a gestão de Dina Boluarte; 61% desaprovam a acção do primeiro-ministro, Alberto Otárola; 62% desaprovam o presidente do Congresso, José Williams; e 88% desaprovam o Congresso, no seu todo.

Para além disso, 66% não concordam com a dissolução do Congresso e com os planos anunciados por Pedro Castillo para governar por decreto.

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