Bicicleta
Diogo Tavares pedalou a Jordânia "dura de roer" de Norte a Sul (até um dos pneus rasgar)
Foram mais de 700 quilómetros de trilhos de terra batida e de "estradas perdidas" entre montanhas e wadis e muitos encontros imediatos com pessoas gentis e curiosas.
Aldeias nómadas beduínas, ruínas milenares, desfiladeiros e wadis "duros de roer" nas subidas. O que fica deste Jordan Bike Trail — que percorre toda a extensão da Jordânia, conectando mais de 700 quilómetros de trilhos de terra, singletrack e "estradas perdidas" entre vales e montanhas — são as florestas de olival e os "encontros em família" para a apanha à antiga, os chás inusitados a toda a hora com as pessoas gentis e curiosas que abrandaram a marcha de Diogo Tavares ("às tantas tive que fingir que não ouvia ou não andava", sorri), é o inglês rudimentar "à base de sorrisos" e Ahmed, aquele miúdo pastor que o barricou com o seu rebanho engalanado só para dizer olá e "dar um giro".
São muitas as histórias, os quilómetros e as fotografias desta aventura que começa bem perto da fronteira norte com a Síria, "sobe e desce à bruta as profundas cordilheiras que cortam o planalto que se eleva acima do vale do Jordão" e desce "nas calmas" até ao deserto do sul e as águas azuis do mar Vermelho, até à ocidentalizada cidade portuária de Aqaba, deixando para trás marcos como Karak, Madaba, Dana, "as maravilhas" de Petra e, claro, a "arte de bem boiar" no mar Morto. Ponto mais alto da viagem: 1699 metros.
Diogo foi pedalar porque, já sabemos, uma vez por ano — pelo menos uma vez por ano — precisa de "estar sozinho" com o seu tempo e a sua bicicleta. Desta vez, reservou 12 dias para o Jordan Bike Trail, que completou em nove porque decidiu gastar os restantes três "a descansar as pernas" e estrategicamente visitar "nas calmas" um ou outro sítio na companhia da namorada Carina Silva, líder da Landescape que acompanhava um grupo nessa região. "Obrigou-me a esticar etapas e a viajar bastante à noite", conta à Fugas Diogo, que nunca tinha estado no Médio Oriente e que saiu da Jordânia cheio de imagens dos "vales inacreditáveis" e da "infinitude de deserto" e cheio de vontade de voltar a olhar para as fronteiras naturais da Jordânia com a Síria, com a Palestina ("que as pessoas teimam em dizer que é Israel") e com o Egipto.
A jornada "não teria tanto sal" sem a sua bicicleta (da Nordest Cycle), refere Diogo, que também agradece à Merrell por lhe "tratar bem os pés" e à Cabeça de Martelo por lhe "proteger o cocuruto todo o santo dia".
Para a história fica uma "extravagância" — o dia em que Diogo pôs a roupa a secar nas colunas de Pella, ruína com sete mil anos — e uma "pedra no sapato", um rasgão num pneu, que não teve conserto e que obrigou Diogo a fazer a recta final à boleia. Fica a história e a vontade de voltar.