Edição Limitada questiona a falta de fotografia em colecções de arte

São 66 obras de 66 fotojornalistas portugueses, em exposição na Galeria Santa Maria Maior, em Lisboa.

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Rui Gaudêncio

A exposição Edição Limitada, que reúne obras de 66 fotojornalistas portugueses, é a primeira de uma série anual que tem por objectivo contribuir para a afirmação desta expressão, no contexto nacional.

"A fotografia documental e o fotojornalismo, em Portugal, ao contrário de outros países, nunca conseguiram afirmar-se e ganhar posição de relevo nas galerias e nas colecções de arte", lê-se no texto de apresentação da mostra promovida pela associação CC11 e o projecto Narrativa, de promoção e divulgação do fotojornalismo, com a Galeria Santa Maria Maior, que acolhe a exposição, em Lisboa.

As três entidades querem "apresentar anualmente uma exposição colectiva" e "criar um ambiente favorável para que a fotografia jornalística e documental nacional também seja vista como um objecto adquirível e coleccionável, por particulares e instituições".

A primeira exposição reúne alguns dos melhores e mais premiados fotojornalistas portugueses, como Adriano Miranda [do PÚBLICO], Alfredo Cunha, António Pedro Ferreira, Bruno Portela, Clara Azevedo, Daniel Rocha [do PÚBLICO], Fernando Veludo, Luísa Ferreira, Manuel Almeida, Paulo Alexandrino, Sara Matos e Tiago Miranda, num total de 66 profissionais e 66 imagens, que documentam as muitas realidades do mundo.

O coordenador do projecto, Tiago Miranda, citado pelo texto de apresentação da mostra, recorda que "o circuito das galerias de arte e das colecções públicas e privadas" estão "há muito tempo (...] de costas voltadas para o fotojornalismo", em Portugal, por isso, esta mostra colectiva traz "uma proposta de entendimento sobre esse espaço comum" e reclama "um direito tão antigo quanto a própria invenção da fotografia."

"Se não nos profissionais, cuja exigência é medida quantas vezes à custa das suas próprias vidas, para nos trazerem o conhecimento dos desvairados rostos do mundo, em quem confiaremos para registar a verdade visual?", interroga-se Emília Ferreira, directora do MNAC.

"Quem a captará e problematizará e a fará chegar a nós de modo fidedigno? Quem levantará a sua voz pelos direitos humanos, pela ética e pela urgência?", prossegue a directora do MNAC, recordando que Francisco de Goya, o pintor do Romantismo espanhol, que registou Os Desastres da Guerra, o fez "com o múltiplo que tinha à mão no seu tempo, a gravura". "Nas imagens em que documentou a guerra [Goya] deixou o seu testemunho. Não as consideramos nós dignas de valor artístico? Porque resistiremos a considerar arte esta disciplina da fotografia? Não tenho resposta", conclui a museóloga e historiadora de arte.

Entre os fotojornalistas reunidos na mostra contam-se ainda, entre outros, Alexandre Almeida, Ana Baião, Ana Brígida, Céu Guarda, Daniel Rodrigues, Diana Quintela, Diana Tinoco, Enric Vives-Rubio, Horacio Villalobos, Mariline Alves, Marisa Cardoso, Marisol Gonzalez, Matilde Fieschi, Miguel Manso [do PÚBLICO], Miguel Riopa, Natacha Cardoso, Nuno André Ferreira, Rui Gaudêncio [do PÚBLICO] e Rui Soares.

Edição Limitada foi inaugurada a 17 de Dezembro e fica patente até ao próximo dia 21, na Galeria Santa Maria Maior, na Rua da Madalena, 147, em Lisboa. Pode ser vista das 15h às 20h.