O mundo dos mapas é muitas vezes monocromático, com linhas ásperas e cores neutras. “Todos os mapas que via eram muito aborrecidos e pouco inspiradores, umas meras linhas azuis”, conta ao PÚBLICO Robert Szucs, que se define como “50% cartógrafo e 50% artista”. “Ou 100% de cada”, brinca. Foi uma das razões que o levou a fazer “arte com mapas”.
Parecem veias ou raízes coloridas que contrastam com o fundo negro. Cada cor corresponde a uma bacia hidrográfica: o mapa da Península Ibérica é sobretudo marcado pelo amarelo da bacia hidrográfica do Douro, pelo azul do Tejo, pelo verde do rio Guadiana e, fora de Portugal, pela bacia hidrográfica vermelha do rio Ebro. Como opta por um estilo minimalista, as suas ilustrações não têm legenda.
O objectivo do cartógrafo húngaro é transformar os padrões que encontra na natureza numa forma de arte contemporânea. Além das bacias hidrográficas, Robert Szucs adapta também a cobertura florestal de várias regiões a arte, assim como a elevação ou a densidade populacional de uma certa região – Portugal, onde o cartógrafo viveu três meses, surge nos seus mapas relativos a bacias hidrográficas e da elevação, mas não da cobertura florestal.
O artista admite que os mapas o fascinam desde que era criança: “Já desenhava mapas na escola primária quando estava aborrecido”, conta ao PÚBLICO.
Mas foi só em 2016 que começou a desenhar estes mapas mais artísticos. A criação de mapas coloridos foi uma das formas que Szucs – que estudou geografia – encontrou para se refugiar do trabalho mais burocrático com que lidava diariamente no seu trabalho que envolvia imagens de satélites, mapas digitais e fotografias aéreas. Os mapas que cria são partilhados na sua página Grasshopper Geography para venda. O artista diz já ter vendido mais de 10 mil mapas desde que abriu a loja online.
“Tento provar que o casamento entre ciência e arte pode ser feliz”, refere numa nota publicada no seu site. Tornou-se artista por acaso, diz – e ainda mais quando sentiu a pressão gerada pela popularidade dos seus mapas. Mas ressalva que, apesar de artísticos, os mapas são gerados a partir de bases de dados e estão correctos do ponto de vista científico.
Nos mapas da elevação, as zonas alaranjadas são as mais altas – como se fosse lava de um vulcão – e as azuis são as mais baixas – numa cor que faz lembrar a água do mar.
As cores não são escolhidas ao acaso, diz: “Têm sentido, têm significado, têm conhecimento escondido”. Quer que os mapas sejam informativos, sim, mas que sejam também bonitos e dignos de serem apreciados. “Fico muito satisfeito em ver a forma como o meu trabalho liga as pessoas à natureza.”