Os humanos conseguem detectar facilmente comportamentos brincalhões nos cães, mas têm dificuldade em detectar acções agressivas. As conclusões são do estudo Context and prediction matter for the interpretation of social interactions across species, publicado na revista científica Plos One, que também acrescenta que o mesmo comportamento do animal pode ser encarado de formas diferentes por duas pessoas: para uma o cão está a brincar e para outra está a ser agressivo.
Para chegar a estes resultados, os investigadores do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig, na Alemanha, mostraram 54 vídeos curtos de interacções quotidianas entre cães, humanos e macacos a 93 participantes separados em dois grupos. Nestes clipes, que não tinham som, os animais e as pessoas poderiam estar a brincar, a ser agressivos ou a ter um comportamento neutro, ou seja, lado a lado, sem interagir.
O primeiro grupo de participantes tinha que decifrar qual dos três comportamentos estava a acontecer e o segundo prever o que iria acontecer.
Juliane Bräuer, autora principal do estudo, começa por explicar ao P3 que os resultados da pesquisa a surpreenderam um pouco, uma vez que esperava que as pessoas fossem capazes de perceber quando é que o cão estava a ser agressivo, mas tal nem sempre aconteceu.
Por outro lado, os participantes conseguiram identificar quando é que os cães mostravam comportamentos brincalhões, situação que, propõem os investigadores, pode ser uma consequência do processo de domesticação. “Os humanos tornaram-se melhores a avaliar quando um cão está a brincar e, portanto, não está a ameaçar”, resumem os investigadores.
No entanto, isto nem sempre acontece. Na verdade, adianta Juliane Bräuer, outros estudos concluíram que os donos de cães, além de terem dificuldade em interpretar os comportamentos destes animais, por vezes são até piores do que quem não tem animais.
A investigadora adianta, por isso, que ter um cão não é suficiente para conseguir detectar as acções e prevenir futuros ataques, mas acrescenta que procurar informação antes de adoptar o animal e, inclusive, frequentar cursos sobre comportamento canino pode ajudar a ler os sinais.
Neste estudo, os vídeos mostravam “situações normais” e baixos níveis de agressividade, o que significa que não era assim tão óbvio perceber que os animais estavam a ser agressivos. Se os dois cães "começassem a lutar um com o outro, as pessoas saberiam identificar”, reforça.
A investigação revela ainda que os participantes identificaram mais comportamentos brincalhões entre humanos e nos macacos mais acções neutras. “Apesar de os macacos serem muito próximos de nós, a comunicação social (gestos, mímica, vocalização) é diferente em muitos aspectos”, justifica a autora.