Japão planeia deitar água de Fukushima para o oceano na “Primavera ou Verão”

Água será previamente tratada, ficando apenas com o elemento radioactivo trítio, de acordo com as autoridades japonesas. Comunidades de pescadores e países à volta estão preocupados.

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A central nuclear de Fukushima mais de dois anos após o acidente Kyodo/Reuters

O Japão planeia começar a lançar ainda este ano mais de um milhão de toneladas de água vinda da sua central nuclear de Fukushima, destruída durante o sismo e o tsunami de Março de 2011. Esta libertação poderia começar a ocorrer “por volta da Primavera ou do Verão”, adiantou o Governo japonês, durante uma reunião nesta sexta-feira, segundo a Reuters.

Os sistemas de arrefecimento dos reactores nucleares ficaram danificados quando ocorreu o sismo e o tsunami que abalaram o Japão em 2011, causando o pior acidente nuclear desde Tchernobil, hoje na Ucrânia. Estima-se que os trabalhos demorem ainda quatro décadas para retirar todo o material radioactivo e limpar totalmente a zona de Fukushima.

Em Abril de 2021, o Governo aprovou a libertação para os oceanos de mais de um milhão de toneladas de água radioactiva, utilizada para arrefecer os reactores nucleares, depois de ser tratada. Na altura, o Governo anunciou que a libertação da água aconteceria “em cerca de dois anos”, cita a Reuters. A água contaminada, guardada em mais de 1000 tanques, é o resultado de água que se foi buscar ao oceano para arrefecer os reactores mais a água das chuvas que se infiltrou no lugar.

A Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA, na sigla em inglês) diz apoiar o plano do Governo japonês, adianta ainda a agência France Press (AFP). A IAEA é uma agência autónoma que está dentro da Organização das Nações Unidas e trabalha para o uso seguro e pacífico da ciência e da tecnologia nuclear. Antes de começar a libertar a água, o governo japonês está ainda à espera de um “relatório extenso” por parte da IAEA, adiantou aos jornalistas Hirokazu Matsuno, secretário do gabinete do Governo, citado pela AFP.

A água seria previamente filtrada para retirar a maioria dos isótopos, mas continuaria a ter algum trítio, um isótopo de hidrogénio radioactivo que contém um protão e dois neutrões e é difícil de ser separado da água.

O plano passa ainda por reduzir os níveis de trítio através da diluição da água e lançá-la para o oceano ao longo de várias décadas, através de um tubo submarino com um quilómetro de comprimento. Segundo a IAEA, a descarga da água cumpre as normas internacionais “e não irá causar nenhum mal ao ambiente”, cita a AFP.

Várias resistências

O plano tem, contudo, muita resistência dos sindicatos de pescadores da região devido ao impacto que a água libertada poderá ter nas suas actividades de subsistência, adianta a Reuters. Países como a Coreia do Sul e a China também se mostraram preocupados.

O Fórum das Ilhas do Pacífico defende o atraso da medida. O Japão “deverá adiar qualquer libertação até termos a certeza acerca das implicações que esta proposta tem para o ambiente e para a saúde humana, reconhecendo especialmente que a maioria das nossas pessoas do Pacífico são pessoas das regiões costeiras, e que o oceano continua a ser uma parte integral da sua subsistência”, defendeu Henry Puna, secretário-geral do fórum, citado pelo jornal britânico The Guardian.