Polícia brasileira detém alegada co-organizadora da invasão bolsonarista de Brasília
Ana Priscila Azevedo é responsável por várias páginas nas redes sociais que apelam à “intervenção militar”. STF aprova penas mais duras por bloqueios de estradas e ocupação de espaços públicos.
A Polícia Federal do Brasil deteve, na terça-feira, Ana Priscila Azevedo, apontada como uma das principais organizadoras e mobilizadoras da invasão e dos ataques de domingo contra as sedes do Congresso, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Palácio do Planalto, em Brasília, levados a cabo por milhares de apoiantes do ex-Presidente Jair Bolsonaro.
Protagonista em vários vídeos e mensagens de apelo à “tomada do poder” e à “intervenção militar” para derrubar o Governo do recém-empossado Luiz Inácio Lula da Silva, incluindo no próprio dia da invasão e nos dias seguintes, Ana Priscila Azevedo foi detida no município de Luziânia, no estado brasileiro de Goiás, e transportada até Brasília.
As autoridades já prenderam pelo menos 1500 pessoas no âmbito das investigações ao ataque “aos três poderes” na capital brasileira, incluindo o coronel Fábio Augusto, comandante da Polícia Militar e responsável pela segurança exterior dos edifícios públicos – Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, e antigo chefe da segurança do Distrito Federal, que se encontra actualmente nos EUA, também é alvo de um mandado de prisão.
Segundo a Folha de S. Paulo, Ana Priscila Azevedo é responsável por diversas páginas de Twitter e de Instagram de apoio a Bolsonaro e de defesa da desobediência civil, e criou vários grupos fechados no Telegram – incluindo um intitulado “A queda da Babilónia”, que serviu para convocar os bolsonaristas e incentivá-los a juntarem-se-lhe para ajudar a “sitiar Brasília” e a “tomar o poder de assalto”.
“A revolução verde e amarelo já começou. O Brasil vai parar! A[s] refinarias e distribuidoras estão sendo fechadas. Nós vamos sitiar os três poderes! Nós exigimos intervenção militar! Nós exigimos o código fonte! Vamos vomitar essa fraude vermelha na cara de vocês”, lê-se numa publicação que fez na sua conta pessoal no Twitter na véspera da invasão de Brasília, toda em letras maiúsculas.
Numa outra mensagem, publicada no dia da insurreição, também em maiúsculas, reagiu desta forma a uma notícia sobre um deputado que era aliado de Bolsonaro e que se demarcou do ex-Presidente: “Traidores da nação!!! Lobos devoradores!!! Virou as costas para o Jair, para os conservadores que acreditavam nele e enfiou a faca nas costas da nação. Rasgue sua bíblia e negue sua fé!!! Esses são os verdadeiros Judas!!!”
Para além disso, Ana Priscila Azevedo também aparece em vários vídeos e imagens da invasão, seja no palácio presidencial, na rampa de acesso ao Congresso ou nos acampamentos junto ao quartel-general do Exército, em Brasília.
Nos dias seguintes ao ataque na sede do poder político e judicial do Brasil, em diversas mensagens áudio publicadas no Telegram, referidas pela Folha, a bolsonarista negou ser uma das responsáveis pelos actos de vandalismo na capital, mas voltou a defender a intervenção militar para derrubar Lula e criticou as autoridades por causa das detenções dos insurrectos.
Com novas manifestações de contestação da vitória de Lula da Silva na segunda volta das eleições presidenciais de Outubro do ano passado marcadas para esta quarta-feira, o juiz Alexandre de Moraes, do STF, aprovou multas e ordens de prisão reforçadas para quem violar a proibição de “participação directa em actos antidemocráticos, pela incitação (inclusivamente em meios electrónicos) ou pela prestação de apoio material (logístico e financeiro) à prática desses actos”.
Moraes exige a “aplicação imediata pelas autoridades locais” de multas de dez mil reais (perto de 1800 euros), para indivíduos, e de 100 mil reais (perto de 18.000 euros), para pessoas jurídicas, por hora, e a “prisão em flagrante” por quaisquer tentativas de ocupação ou bloqueio de estradas e de outros espaços públicos relevantes em todo o país.
“Os desprezíveis ataques terroristas à democracia e às instituições republicanas serão responsabilizados, assim como os financiadores, instigadores e os anteriores e actuais agentes públicos coniventes e criminosos, que continuam na ilícita conduta da prática de actos antidemocráticos”, diz o juiz, na sua decisão, divulgada nesta quarta-feira.
Moraes diz que “o comportamento ilegal e criminoso dos investigados não se confunde com o direito de reunião ou livre manifestação de expressão” e explica que este “se reveste de carácter terrorista, com a omissão, conivência e participação dolosa de autoridades públicas (actuais e anteriores), para propagar o descumprimento e desrespeito do resultado das Eleições Gerais de 2022, com consequente rompimento do Estado democrático de direito e a instalação de um regime de excepção”.
O juiz exigiu ainda ao Telegram que bloqueasse grupos e perfis que apelem à insubordinação e à “chamada para a [manifestação de] ‘retomada do poder’”.