No feriado nacional que o Benim dedica ao vudu, os participantes, vestidos como guardiães da noite, rodopiaram em trajes que se assemelhavam a medas de feno em Technicolor, encantando tanto fiéis como turistas.
Mais de mil pessoas reuniram-se na pequena cidade da costa atlântica de Ouidah, na terça-feira, outrora um porto marcante no comércio de escravos, para assistir aos elaborados rituais anuais de dança e batuque em honra dos muitos deuses e espíritos desta religião com 500 anos.
"Eles vêm cada vez em maior número porque o vudu já não é considerado feitiçaria, já não é considerado barbarismo", disse o líder espiritual vudu Daagbo Hounon Houna II, adornado com missangas coloridas e uma cartola.
O vudu é praticado por cerca de 12% da população deste país da África Ocidental, com 13 milhões de pessoas, mas as autoridades também querem usar estas raízes espirituais profundas e trajes espectaculares para atrair mais turistas e impulsionar a economia, desde sempre dependente da agricultura.
Em Ouidah, os grupos de dança movem-se ao ritmo de tambores e cânticos enfeitiçados, enquanto os espectadores assistem e filmam vídeos com os telemóveis.
A terapeuta nigeriana Flora Domenis, de 44 anos, viajou para o festival com amigos das Caraíbas, que disse terem um interesse especial por este tipo de tradições devido à herança africana que partilham.
"Para eles, há muito interesse em descobrir as raízes dos nossos antepassados, as raízes africanas", explicou.
Já a espectadora Jean Marie Ngondjibangangte, dos Camarões, ficou particularmente impressionada com as máscaras multicoloridas e o intrincado trabalho de pés das dançarinas. O vudu "é extraordinário e nós, como africanos, temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para promover esta cultura", declarou.
O vudu do turismo
Como parte do seu plano de desenvolvimento, o Governo reservou um troço de praia entre a principal cidade, Cotonou, e Ouidah como zona turística especial para os visitantes. A ideia é de que estes, atraídos pelo vudu, estejam também interessados em visitar locais históricos associados à escravatura, palácios pré-coloniais e conhecerem as maravilhas naturais do interior do Benim.
Há ainda um longo caminho a percorrer. O Benim recebeu apenas cerca de 350 mil turistas em 2020, embora os números tenham vindo a aumentar constantemente: em 2016, tinham sido 292 mil visitantes, de acordo com os dados anuais mais recentes da Organização Mundial do Turismo.
A turista francesa Elodie Wine, 23 anos, considerou que ver as danças do grupo e as fantasias do Festival de Ouidah seria provavelmente o ponto alto da sua viagem ao Benim.
"Foi lindo. Pensávamos que não haveria tanta gente aqui, mas é fantástico assistir", rematou.