Universidade de Lisboa ganha uma biblioteca sustentável com telhado verde

Da criação de um telhado verde à reutilização da água da chuva para a rega, são várias as características que fazem da nova biblioteca da Universidade de Lisboa um “edifício sustentável”.

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Cobertura verde da nova biblioteca ajuda a reter a água das chuvas Nuno Ferreira Santos
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Superfícies de vidro permitem tirar partido da iluminação natural Nuno Ferreira Santos
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Ampliação da biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa Nuno Ferreira Santos

Há muitos anos que a arquitecta Ana Paula Pinheiro sonha com edifícios verdes. Em 2012, elaborou o projecto de ampliação da biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL) – e, claro, lá estavam no desenho rectângulos forrados com plantas, assim como tantas outras características necessárias para que o edifício fosse considerado “sustentável”. Uma década depois, após “muitas voltas”, a primeira fase das obras está concluída.

Do sistema de recolha de água da chuva à instalação de um pavimento térmico, passando pela gestão da qualidade do ar, são várias as apostas para garantir um melhor desempenho do edifício na Alameda da Universidade, em Lisboa.

“Todo o projecto foi pensado segundo os princípios de construção sustentável, utilizando-se de acabamentos de emissão zero [de gases de efeito de estufa]”, lê-se na memória descritiva da nova biblioteca, inaugurada na penúltima semana de Dezembro de 2022.

“Desde 1996 que ando a tentar fazer fachadas e coberturas verdes. Depois acontecia sempre qualquer coisa. Agora estou muito contente e orgulhosa”, afirma ao PÚBLICO Ana Paula Pinheiro, cuja tese de doutoramento versa precisamente sobre o trabalho que tem desenvolvido nos edifícios da FDUL.

O projecto de ampliação da biblioteca tem a assinatura da arquitecta Ana Paula Pinheiro Nuno Ferreira Santos
Nova entrada da biblioteca da Faculdade de Direito Nuno Ferreira Santos
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O projecto de ampliação da biblioteca tem a assinatura da arquitecta Ana Paula Pinheiro Nuno Ferreira Santos

O projecto de expansão da biblioteca desdobra-se em três pisos: o inferior, uma cave rectangular que incluirá os depósitos de livros; o piso térreo, que assume o formato da letra “L”, acolhe um pátio ajardinado para o qual se debruçam os edifícios contíguos; e, por fim, o piso superior com uma cobertura vegetal. A primeira fase da obra centrou-se na parte térrea, onde ficam as salas de leitura e informática, assim como os gabinetes, e no telhado verde.

Na primeira fase da ampliação também ficou construído o piso -1, tendo ficado em tosco a zona dos Depósitos de Livros, a ligação da rampa ao estacionamento e as escadas de emergência. Falta ainda o elevador de ligação aos três pisos, detalha a arquitecta. Também já estão concluídas as zonas técnicas no piso inferior.

Leitura com vista para o jardim

Da sala de leitura já se pode ver, através da parede envidraçada, os pátios com plantas mediterrânicas. A arquitecta paisagista Susana Morais, que colocou em prática o projecto paisagístico concebido por Teresa Chambel, afirmou ao PÚBLICO que foram privilegiadas espécies locais como os alecrins, as alfazemas e as santolinas. “Usou-se também algumas suculentas, porque são resistentes e têm baixo consumo de água – não há nenhuma zona com relvado”, frisa.

Por outras palavras, o pátio acolhe apenas plantas menos exigentes e, por isso mesmo, com mais chances de singrar num país que tem enfrentado episódios de seca hidrológica. Sempre que possível, o jardim será irrigado com a ajuda de um sistema de aproveitamento de águas pluviais.

O objectivo é recuperar a água que cai do céu para irrigar a terra gota a gota. Para o efeito, há um reservatório e uma central de bombagem para abastecer a rega. Só quando o depósito está vazio é que se recorre à rede pública de abastecimento, garante Ana Paula Pinheiro, do atelier RBD.APP Arquitectos.

A cobertura verde, por sua vez, possibilita revestir com “material vegetal permeável” superfícies que, de outro modo, estariam impermeabilizadas como a maioria dos telhados. “Permite criar zonas de retenção de água em caso de enxurrada”, explica a arquitecta.

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Licínia Santos, bibliotecária responsável pela unidade da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa Nuno Ferreira Santos

Assim, a parte superior da biblioteca funciona como uma esponja que filtra e retém a chuva, podendo absorver até 70% das águas pluviais que caem naquele perímetro. Segundo a memória descritiva do projecto, “estas coberturas ajudam a diminuir a temperatura do ar urbano, combatendo o efeito ilha de calor”. E ainda reduzem os custos de condicionamento da temperatura e contribuem para a melhoria da qualidade do ar “captando o pó e a sujidade”.

Pousar os olhos na paisagem

“Trata-se de um edifício completamente integrado na paisagem. Quem está na sala de leitura tem a sensação de que está no exterior”, explica ao PÚBLICO a bibliotecária Licínia Santos, chefe de divisão da biblioteca da FDUL. Para a responsável, “a grande diferença que se nota é mesmo a questão da luz”, que perpassa através dos vidros. “É uma espécie de aquário”, define.

Quem estiver ali sentado, a estudar algum dos 500 mil títulos do acervo, pode pousar os olhos sobre a paisagem durante os hiatos da leitura. Foi calculada esta experiência de fruição por parte do leitor. Ana Paula Pinheiro explica que houve um grande cuidado em criar “um campo visual agradável”, apostando nas paredes envidraçadas e privilegiando a luz natural.

“Além da aposta na sustentabilidade, gosto de transmitir em todos os espaços que crio três coisas: simplicidade, calma e conforto”, resume a arquitecta. E, aqui, quando se fala em bem-estar, isto também quer dizer conforto térmico.

Um bom desempenho de um edifício deve também garantir uma experiência agradável aos utentes, afirma a responsável, permitindo que possam estudar sem sentir frio ou calor e, ao mesmo tempo, que o consumo energético seja reduzido.

A nova biblioteca conta, por exemplo, como um pavimento radiante aquecido e arrefecido a água. “É possível ter, em simultâneo, uns espaços em arrefecimento e outros em aquecimento, transferindo a energia de uns para os outros”, indica a memória descritiva do projecto.

O documento refere ainda que, seguindo os princípios do design sustentável, as maiores preocupações do projecto gravitam à volta da maximização da iluminação natural e da conservação energética, o que inclui a escolha de equipamentos eficientes, luminárias adequadas e sistemas que promovem a suficiência energética.