2022 foi um ano de vários recordes meteorológicos em Portugal e na Europa
Ao todo, 11 países europeus tiveram em 2022 o ano mais quente desde que há registo. Foi “mais um ano de extremos climáticos em toda a Europa e globalmente”.
O ano de 2022 ficou marcado por secas, ondas de calor e incêndios em boa parte da Europa. Agora, a compilação e análise dos dados meteorológicos dos últimos meses revelam a dimensão daqueles extremos. O Verão europeu foi, de facto, o mais quente desde que há registo, suplantando o Verão de 2021, que detinha o anterior recorde, adianta um relatório do Serviço de Alterações Climáticas do Programa Copérnico (C3S, na sigla em inglês) da União Europeia, com informação sobre o clima de 2022.
Embora não tenha sido o ano mais quente na Europa, 2022 ficou em segundo lugar, atrás apenas de 2020, que foi 0,3 graus Celsius mais quente do que o ano passado.
O ano de “2022 voltou a ser mais um ano de extremos climáticos em toda a Europa e globalmente”, diz Samantha Burgess, vice-directora do C3S, citada num comunicado sobre o relatório desta terça-feira. A informação apresentada pelo C3S apoia-se na base de dados ERA5, com informação disponível desde 1950. “Estes eventos sublinham que já estamos a vivenciar as consequências devastadoras do nosso mundo em aquecimento”, acrescenta a responsável.
Onze países europeus tiveram em 2022 o ano mais quente de sempre, mostra um mapa divulgado pelo C3S. Portugal foi um deles. A temperatura média de Portugal continental ao longo de 2022 foi de 16,64 graus Celsius, mais 1,38 graus do que o valor normal, definido pelo período entre 1971 e 2000, de acordo com os dados fornecidos ao PÚBLICO pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que conta com registos desde 1931. Anteriormente, o ano mais quente vivido cá tinha sido 1997, quando a temperatura média foi de 16,57 graus Celsius.
Além de Portugal, também a Bósnia-Herzegovina, a Croácia, a Eslovénia, a Espanha, a França, a Irlanda, a Itália, o Luxemburgo, o Reino Unido e a Suíça, tiveram em 2022 o ano mais quente de sempre. O mapa divulgado pelo C3S revela ainda que a região ocidental da Europa foi onde se viveu as temperaturas mais quentes ao nível do continente. Países como a Alemanha, a Bélgica e a Áustria tiveram o segundo ano mais quente de sempre.
Dos 12 meses do ano, apenas Março, Abril e Setembro tiveram temperaturas abaixo da média desses meses, na Europa, de acordo com o C3S. Ainda na Europa, Outubro de 2022 foi o Outubro mais quente de sempre, com temperaturas perto de dois graus acima da média — que, no caso do C3S tem em conta o período entre 1991 e 2020 — e Junho de 2022 foi o segundo mais quente, com 1,6 graus acima da média.
Mas foi durante o Verão, com as suas ondas de calor, que as consequências destes extremos climáticos se fizeram sentir com força. No continente, houve mais de 20 mil mortes por excesso de calor, recorda a Reuters. Países como a Croácia, a Espanha, a Itália e o Reino Unido viveram recordes absolutos de temperaturas, ao mesmo tempo que o continente era atingido pela maior seca dos últimos 500 anos, reduzindo ao extremo o caudal de vários rios, deixando amarela a sempre verde paisagem britânica e fomentando incêndios de Portugal à Eslovénia.
As emissões de dióxido de carbono (CO2) — o gás mais importante para o aumento do efeito de estufa — provocadas por incêndios florestais na União Europeia e Reino Unido, durante o período de Junho a Agosto, foram as maiores dos últimos 15 anos, adianta ainda o relatório do Copérnico. No caso da Alemanha, da Espanha, da França e da Eslovénia, aquelas emissões foram as maiores das últimas duas décadas.
O relatório dá “uma prova clara de que, para evitar as piores consequências [do aquecimento global], será necessário que a sociedade reduza urgentemente as emissões de carbono e, ao mesmo tempo, se adapte rapidamente ao clima em mudança”, diz ainda Samantha Burgess.
Quinto ano mais quente a nível mundial
A nível mundial, o relatório adianta que 2022 foi o quinto ano mais quente desde que há registo, com uma temperatura média mundial 1,2 graus superior à temperatura média pré-industrial. “Isto faz com que 2022 seja o oitavo ano seguido em que as temperaturas são superiores a um grau acima do nível pré-industrial”, lê-se no comunicado do C3S.
Em Novembro, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) tinha divulgado a sua estimativa provisória da temperatura média mundial de 2022: era 1,15 graus superior à temperatura média mundial, contabilizando dados de Janeiro a Setembro.
O resto do mundo também contou com episódios extremos, como as temperaturas recorde observadas na Antárctida em Março. Na estação de Vostok, no interior do Leste da Antárctida, os termómetros subiram aos -17,7 graus, a maior temperatura medida nos últimos 65 anos.
O documento da Missão Copérnico não se esqueceu do que muitos consideram ser o número mais importante das alterações climáticas: a concentração de dióxido de carbono na atmosfera, que todos os anos sobe com a queima de mais combustíveis fósseis. Em 2022, a concentração desse gás subiu mais 2,1 partes por milhão (ppm), atingindo uma concentração média na atmosfera de 417 ppm. Ou seja, 137 ppm acima dos níveis pré-industriais.
Estima-se que a última vez que a Terra viveu uma concentração de CO2 semelhante foi há dois milhões de anos.