Buraco do ozono está a fechar: há uma “recuperação notável”, confirma relatório da ONU

A camada de ozono está em vias de recuperar dentro de quatro décadas. É uma história de sucesso ambiental que também tem ajudado a limitar o aquecimento global, conclui um relatório da ONU.

Foto
Camada do ozono sobre a Antárctida durante o ano de 2022 NASA

A inversão dos danos na camada protectora da Terra está a progredir bem, reflectindo a eficácia dos acordos globais para eliminar gradualmente substâncias químicas nocivas, anunciou esta segunda-feira o Painel de Avaliação Científica das Nações Unidas do Protocolo de Montreal.

"A acção em relação ao ozono estabelece um precedente para a acção climática", afirmou Petteri Taalas, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM). "O nosso sucesso na eliminação gradual dos produtos químicos que estavam a causar danos na camada de ozono mostra-nos o que pode e deve ser feito – com carácter de urgência – para fazer a transição dos combustíveis fósseis, reduzir os gases com efeito de estufa e assim limitar o aumento da temperatura."

Com as medidas actuais, espera-se que a camada de ozono sobre a Antárctida recupere para os níveis de 1980 até 2066; até 2045 sobre o Árctico; e até 2040 no resto do mundo.

A avaliação surge no mais recente relatório que é publicado de quatro em quatro anos para avaliar o impacto do Protocolo de Montreal de 1987, que proibia as substâncias que danificavam o escudo protector da Terra, representando um risco para os seres humanos e o ambiente.

O raro acordo universal, ratificado por 197 Estados e pela UE, eliminou gradualmente os gases, incluindo os clorofluorocarbonetos (CFC), que eram utilizados em produtos como aparelhos de ar condicionado, frigoríficos e desodorizantes, mas que, uma vez libertados, estavam a danificar o ozono na atmosfera superior, permitindo a passagem de mais raios UV-B nocivos.

Uma actualização de 2016 do acordo também eliminou os hidrofluorocarbonetos (HFC), que tinham sido usados como substitutos dos CFC mas que, apesar de não prejudicarem directamente o ozono, também têm um forte efeito nas mudanças climáticas.

Desde então, tem havido uma "notável recuperação" na camada superior da estratosfera, como se constata no relatório. A eliminação progressiva do HFC também poderá evitar um aquecimento estimado de 0,5 graus Celsius até 2100.

No entanto, as propostas para utilizar a geoengenharia na atmosfera para reduzir o aquecimento global, reflectindo mais luz solar no espaço, podem ter consequências inesperadas e indesejadas, incluindo atrasar a recuperação do ozono e aprofundar o buraco do ozono na Antárctida, avisa o relatório.

Outros factores, incluindo o lançamento de foguetões e incêndios florestais mais frequentes e intensos, exacerbados pelas alterações climáticas, podem também afectar a recuperação, e é necessária mais investigação para compreender o quanto.

Muitas vezes considerado como uma história de sucesso para as negociações ambientais internacionais, o Protocolo de Montreal tem relevância para os esforços actuais para reduzir as emissões de dióxido de carbono e de outros gases com efeito de estufa, assim como para mitigar as alterações climáticas, conclui a ONU.