Queda fez com que escritor Hanif Kureishi possa não voltar a conseguir segurar numa caneta

Acidente em Roma deixou lesões ao escritor que tornam incerta a sua capacidade motora.

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Hanif Kureishi, fotografado em Lisboa em 2017 daniel rocha

O célebre romancista e argumentista britânico Hanif Kureishi disse na sexta-feira que não tem controlo sobre os seus membros e pode não ser capaz de segurar novamente uma caneta após uma queda debilitante em Roma no dia 26 de Dezembro.

O argumentista de 68 anos, nomeado para o Óscar por A Minha Bela Lavandaria (1985) descreveu como pensou estar perto da morte depois de se ter sentido tonto enquanto assistia a um jogo de futebol e bebia cerveja. Minutos depois, acordou, "numa poça de sangue" e temendo que só lhe faltassem "três fôlegos", escreveu. Kureishi foi ajudado pela sua companheira, Isabella d'Amico, que ele diz que lhe salvou a vida.

O autor foi tratado no Hospital Gemelli em Roma, onde foi submetido a uma cirurgia à coluna vertebral. Desde então houve pequenas melhorias no seu estado. "[Mas] não consigo coçar o nariz, fazer um telefonema ou alimentar-me. Como podem imaginar, isto é humilhante, degradante e um fardo para terceiros."

Filho de um imigrante paquistanês e de uma inglesa, Kureishi cresceu nos subúrbios de Londres. É escritor há mais de três décadas e é mais conhecido pelo seu trabalho sobre imigrantes e raça num Reino Unido pós-colonial que se transformou numa sociedade multicultural.

Kureishi ganhou fama com o guião de A Minha Bela Lavandaria, uma comédia social dos anos 1980 que incluía um paquistanês-britânico gay e que era uma crítica à política da então primeira-ministra Margaret Thatcher. O filme, que contava com Daniel Day-Lewis, foi nomeado para um prémio de Argumento pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.

"Hanif Kureishi foi em tempos o homem que disse ao mundo o que é ser jovem e asiático em Londres", escreveu o The Washington Post num perfil do autor de 1999. "Havia então poucos autores asiáticos britânicos, e nenhum deles retratava a cultura jovem londrina com tanta segurança."

Em 2008, o Times of London nomeou-o um dos 50 maiores escritores britânicos desde 1945, ao lado de Philip Larkin e George Orwell. E a autora Zadie Smith escreveu que o romance de estreia semi-autobiográfico de Kureishi, O Buda dos Subúrbios, fez com que pessoas como ela se sentissem vistas pela forma como descrevia a experiência migrante multicultural.

Descrevendo a sua provação física com grande detalhe, Kureishi escreveu sobre sentir-se "divorciado" de si próprio ao perceber a falta de coordenação entre "o que restava" da sua mente e do seu corpo.

Nas redes sociais, o escritor pediu aos seus seguidores informações sobre a tecnologia assistida por voz. "[Porque] não é certo se alguma vez serei capaz de caminhar novamente, ou se alguma vez serei capaz de segurar uma caneta."

Esperava que tal tecnologia lhe permita"observar, escrever e recomeçar a trabalhar" e realizar "algum tipo de meia vida".

Amigos e fãs, chocados, reagiram com consternação à notícia do acidente. O autor Hari Kunzru disse num tweet que estava a tentar processar a notícia. Nigella Lawson, chef e autora de livros de cozinha, escreveu também no Twitter: "Todos gostam de si".

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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