As pistas de esqui da Suíça, um dos vários países onde se encontra a cordilheira dos Alpes, são muito famosas. Entre meados de Novembro e meados de Abril, por elas passam imensos amantes de desportos de Inverno. Mas este ano não está a começar bem — e a culpa é do calor fora de época, que está a preocupar os responsáveis pelas estâncias de esqui.
Devido às temperaturas invulgarmente elevadas para a altura do ano em que estamos, as montanhas suíças estão com muito menos neve do que o normal. Isto é uma dor de cabeça considerável para as estâncias, algumas das quais não tiveram alternativa senão fechar temporariamente, reporta a Reuters.
A agência de notícias refere que, numa estância na vila suíça de Gstaad, só 16 de 70 pistas de esqui é que estavam abertas esta quarta-feira. Já na comuna de Leysin, tiveram de colocar um troço de neve artificial, tal é a gritante falta de neve natural. Quando, esta quarta, um fotógrafo da Reuters capturou este cenário, a neve artificial estava a ser aproveitada apenas por um número muito reduzido de esquiadores.
Duas das pessoas que a agência de notícias cita no seu texto são um responsável por uma empresa que organiza passeios de teleférico e uma moradora local, residente no cantão de Vaud. O primeiro, Armon Cantieni, diz que, comparativamente ao ano passado, os seus teleféricos estão actualmente a receber 35 a 40% menos pessoas. “É evidente que estamos preocupados”, diz.
A segunda, Sophie Ruchet, confessa que “ver tão pouca neve é de partir o coração”. “Será que ainda vale a pena levar os nossos filhos às pistas de esqui e proporcionar-lhes aqueles momentos alegres, quando não sabemos o que é que o futuro trará?”, questiona-se, temendo os mais adversos dos efeitos das alterações climáticas.
A Europa entrou em 2023 com uma onda de calor cujo impacto foi assinalável em vários países — incluindo a Suíça, onde houve temperaturas históricas na comuna de Delémont, por exemplo. Aqui, os termómetros chegaram aos 20,2 graus Celsius a 1 de Janeiro, um valor nunca antes registado em território suíço no primeiro mês do ano.
“O novo ano começou com uma onda de calor histórica que afectou a Europa, com muitos países a observarem a temperatura mais quente de que há registo para 1 de Janeiro. Quebraram-se centenas de recordes de temperatura e prevaleceram temperaturas semelhantes às de Verão em numerosas cidades de todo o continente”, reportou esta segunda-feira o Copérnico, programa da União Europeia de observação da Terra.
Uma onda de calor ocorre quando a temperatura máxima é, durante pelo menos seis dias seguidos, cinco graus Celsius mais alta do que o valor médio das máximas diárias no período de referência (1961-1990). Esta é a definição oficial da Organização Meteorológica Mundial.
Os Alpes estão a perder neve e a ganhar vegetação — e isso já é detectável a partir do espaço, conforme pudemos perceber há cerca de seis meses, graças a um estudo publicado na reputada revista Science. Uma equipa de investigadores da Universidade de Basileia, na Suíça, analisou imagens de satélite dos últimos 38 anos e concluiu que as alterações climáticas provocaram perda de neve em cerca de 10% das regiões dos Alpes que em algum momento do ano costumam estar cobertas de branco.