Morreu o radialista e divulgador de música António Cartaxo

O nome por trás de Você gosta de Beethoven? , Em Sintonia ou Histórias da música... e outras era “um dos maiores autores da história da rádio em Portugal”, diz a Antena 2.

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António Cartaxo tinha 88 anos RTP

O radialista português António Cartaxo, que trabalhou para a BBC e fez carreira na rádio pública portuguesa, tornando-se um dos grandes divulgadores da música clássica em Portugal, morreu aos 88 anos, em Lisboa, disse à agência Lusa o jornalista António Borga. O PÚBLICO confirmou também a informação junto do radialista António Macedo.

António Cartaxo, que nasceu na Amadora em 1934, dedicou grande parte da sua vida profissional à difusão da música clássica. A Antena 2, que foi a sua casa durante quatro décadas, recorda-o como "um dos maiores autores da história da rádio em Portugal" e como um praticante da "arte de musicólogo-contador-de-histórias".

Tinha uma "mestria comunicacional única e exclusiva" e era "um grande trunfo do serviço público de radiodifusão", disse em 2006 o então Provedor do Ouvinte da Rádio Pública, José Nuno Martins, citado pela Antena 2.

A estação pública vai homenageá-lo esta quinta-feira, às 19h, com uma emissão especial, intitulada Em Memória de António Cartaxo.

"A rádio para mim foi sempre um meio apaixonante. [...] Há outro tipo de rádio que não diz absolutamente nada. Eu gosto da forma como faço os meus programas, contando as minhas histórias de música e procurando tirar o máximo partido do som que a rádio possibilita", recordava António Cartaxo em entrevista à agência Lusa em 2010, quando publicou o livro Quase verdade como são memórias.

António Cartaxo estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e ingressou em 1963 no serviço português da BBC, em Londres, onde permaneceu durante 15 anos.

À Lusa, contou que esse período foi "marcante e decisivo" não só pelo que aprendeu em termos profissionais como "pela possibilidade de através das reportagens pôr a nu o que era o regime português", antes da revolução de 25 de Abril de 1974.

É nessa época também que grava em Londres, com António Borga, o disco País de Cravos, País de Cardos.

Na sua página oficial, a rádio Antena 2 lembra que, depois de Abril de 1974, António Cartaxo e Jorge Ribeiro (radialista com quem trabalhou) foram "acusados de apresentarem uma visão de esquerda e alvo de sanções, que culminam em tribunal e despedimento da BBC".

Em 1976, o radialista ingressou na rádio pública portuguesa, onde viria a assinar programas como Em Sintonia, De olhos bem abertos e Histórias da música... e outras.

Desse início do percurso na RDP é de destacar ainda o programa Você gosta de Beethoven? (1976), assinado em parceria com Jorge Ribeiro, em que eram entrevistados trabalhadores da empresa metalúrgica Sorefame sobre a música daquele compositor alemão. O programa valeu-lhes um prémio no concurso pró-música de rádio na Hungria. Juntar-se-lhe-iam outras distinções ao longo da carreira, nomeadamente o "special award" da BBC ou o Prémio Igrejas Caeiro de Rádio, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Autores, em 2016.

Em 2012, venceu o Prémio António Alçada Baptista pelo livro Quase verdade como são memórias. Na mesma entrevista à Lusa a propósito deste livro, António Cartaxo dizia que não se imaginava a viver sem rádio, apesar de ter sido leitor de português na Universidade de Varsóvia e professor durante 20 anos na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Além de Quase verdade como são memórias, António Cartaxo publicou outros livros, entre os quais Ao sabor da música (1996) e Efemérides românticas (2010).

Notícia corrigida às 15h41: título da obra Ao sabor da música